34ª Bienal de São Paulo enfatiza poéticas da “relação” para unir instituições culturais da cidade

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Projeto curatorial inovador promove diversas exposições no Pavilhão da Bienal a partir de março de 2020, além de múltiplas mostras resultantes de colaborações com diversos espaços culturais de São Paulo

Apontado pela Fundação Bienal para assumir a curadoria da 34ª Bienal de São Paulo, Jacopo Crivelli Visconti foi selecionado com um projeto que propõe estruturar a mostra a partir do conceito de “relação”. Livremente inspirada pelas reflexões de pensadores como Édouard Glissant (Sainte-Marie, Martinica, 1928 – Paris, 2011), que tem como um dos pontos centrais de sua filosofia a Poética da relação (título do livro por ele publicado em 1990), e pelas análises da visão de mundo ameríndia desenvolvidas nas últimas décadas por Eduardo Viveiros de Castro (Rio de Janeiro, 1951), a 34ª Bienal afirma ser preciso abandonar as visões fechadas e monolíticas para abrir-se à multiplicidade de relações possíveis e em constante evolução.

“No Brasil e no mundo de hoje, polarizados, divididos e cada vez mais fechados ao outro e ao diálogo, essas lições se tornam urgentes e necessárias”, afirma Crivelli Visconti, que convidou Paulo Miyada (curador-adjunto), Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez (curadores convidados) para compor sua equipe. “A 34ª Bienal enfatiza o potencial da arte como resiliência, reinvenção, repetição, tradução e opacidade. Nesse sentido, o projeto quer reivindicar o direito à complexidade e à ambivalência das expressões da arte e da cultura, assim como das identidades dos sujeitos e grupos sociais, oferecendo alternativas ao antagonismo exacerbado que tem caracterizado a arena política e social nos últimos anos. Mais do que atrelada a um tema, tese ou discurso único, a 34ª Bienal se articula a partir das múltiplas relações que se instauram entre questões artísticas, temáticas, conceituais e institucionais num evento desse porte”, completa o curador.

Para problematizar de fato e a fundo a questão proposta, a 34ª Bienal irá operar de maneira inovadora: no tempo, a Bienal se expandirá ao longo de 2020, com exposições individuais e eventos realizados no Pavilhão Ciccillo Matarazzo entre março e agosto; no espaço, ela abraçará a cidade, com mostras realizadas entre setembro e dezembro em parceria com dezenas de instituições culturais paulistanas. Obras dos artistas que integram essas exposições serão mostradas, simultaneamente, no Pavilhão da Bienal, convidando o público ao exercício de perceber as obras a partir das distintas relações que elas estabelecem numa exposição individual e numa coletiva de grande porte como a Bienal.

Tempo, superfície e profundidade

A fim de possibilitar o estabelecimento de uma ampla gama de relações, nos mais diferentes níveis, a 34ª Bienal será articulada ao redor de três eixos principais: tempo, superfície e profundidade. Esses vetores dizem respeito ao movimento da mostra, tanto do ponto de vista institucional quanto da relação entre as obras e com o público.

O começo efetivo da 34ª Bienal se dará em março de 2020, com a realização da primeira de três exposições individuais, que irão ocupar áreas específicas do Pavilhão da Bienal, antes de confluir, em outras configurações, na exposição maior, onde poderão ser vistas e lidas a partir de outras relações. Essas mostras serão produzidas e curadas em colaboração com instituições internacionais, que as receberão em sua programação a partir de 2021. Adicionalmente, três eventos de curta duração e de caráter mais performático também estão previstos para o período entre março e agosto de 2020.

No âmbito espacial, a 34ª Bienal também irá se transformar. Num primeiro momento, a área da exposição será apenas a da superfície ocupada, dentro do Pavilhão da Bienal, por cada uma das mostras, até o edifício estar inteiramente tomado a partir de setembro, quando a Bienal irá também se expandir a outras instituições culturais da cidade. A colaboração com outros espaços culturais paulistanos responde ao desejo de instaurar um diálogo que enfatize a importância das trocas e das relações que se constroem em conjunto, estratégias centrais para o projeto, que também andam lado a lado com o movimento de articulação e abertura à cidade conduzido pela Fundação Bienal nos últimos anos, reflexo do incessante questionamento da instituição sobre seu próprio papel no âmbito de um panorama artístico em constante transformação, que a Bienal em larga medida contribuiu para constituir.

Finalmente, no que diz respeito à profundidade, a 34ª Bienal se articula inicialmente ao redor de afirmações aprofundadas, para se abrir ao diálogo e à relação num segundo momento. “Os primeiros episódios da Bienal, constituídos por exposições individuais, podem ser considerados afirmações. Paulatinamente, conforme o prédio for ocupado, essas exposições começarão a ser colocadas em relação com outras obras e outras reflexões, tornando-se parte de uma discussão mais complexa e articulada que, em seu estágio final, se expandirá à cidade”, explica o curador. Essas colaborações serão detalhadas em diálogo próximo de cada instituição com o curador e sua equipe.

Uma Bienal que abraça São Paulo

Ao propor uma rede de conexões culturais, a 34ª Bienal propõe reforçar o papel articulador que a Bienal de São Paulo historicamente desempenhou no panorama brasileiro, levando em conta o cenário atual e as especificidades e a diversidade das instituições locais, com as quais a Fundação Bienal busca se relacionar de maneira inédita. Há, assim, um encontro entre proposta curatorial e vocação institucional da Fundação, essencial para a realização do projeto.

“A Fundação Bienal inicia agora um ciclo em que se abre para o mundo e aprofunda os vínculos que vem estabelecendo com a cidade nos últimos anos. Com uma proposta que busca unir a todos em torno de um projeto comum, a 34ª Bienal marca um momento de afirmação da instituição”, afirma José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.

A 34ª Bienal busca, por meio do engajamento dessa rede e de sua composição multifacetada, apresentar uma visão plural e em transformação da produção artística contemporânea e do momento que vivemos.

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