Tate apresenta a maior e mais abrangente retrospectiva do trabalho de Paula Rego no Reino Unido

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A exposição, composta por mais de 100 obras da artista portuguesa, representa uma vitória “simbólica” sobre a discriminação que sofreu enquanto mulher e estrangeira

A Tate Britain apresenta, até 24 de outubro, a maior e mais abrangente retrospectiva do trabalho de Paula Rego no Reino Unido. Artista de extraordinário poder imaginativo, Rego (1935) redefiniu a arte figurativa e revolucionou a forma como as mulheres são representadas.

A exposição contará sua notável história, destacando a natureza pessoal de grande parte de sua obra e o contexto sócio-político em que está enraizada e revelando seu amplo leque de referências, desde histórias em quadrinhos até pinturas históricas. Apresentando mais de 100 obras, incluindo colagem, pinturas, pastéis em grande escala, desenhos e gravuras, vai abranger os primeiros trabalhos de Rego da década de 1950, onde são visíveis referências ao regime ditatorial de António Salazar, ao qual se opunha, até alguns mais recentes nos quais aborda questões sociais, como a série “Aborto”, que produziu durante a campanha pela despenalização do procedimento em Portugal.

Paula Rego Self-portrait in Red 1966. Museu Nacional de Arte Contemporanea do Chiado (Lisbon, Portugal) © Paula Rego

Paula Rego Self-portrait in Red 1966. Museu Nacional de Arte Contemporanea do Chiado (Lisbon, Portugal) © Paula Rego

Além do contexto político e social, a obra de Paula Rego também reflete as suas experiências pessoais, nomeadamente da sua infância, da relação intensa com o marido, o artista britânico Victor Willing (1928-1988), que morreu de esclerose múltipla, e da própria luta com a depressão.

A pintora portuguesa é reconhecida pela forma como influenciou a arte figurativa britânica e “revolucionou” a forma como as mulheres são representadas, através de telas como a série “Mulher Cão”, dos anos 1990.

Para Nick Willing, filho da artista, “A Dança”, de 1988, é um dos quadros especiais da exposição, pois ele próprio serviu de modelo enquanto o pai estava doente. Inicialmente pensada para representar mulheres a dançar, como nas tradicionais feiras em Portugal, mas refletindo a sua história pessoal, Rego seguiu a sugestão do marido, então já acamado com esclerose múltipla, de incluir também homens na cena situada na Praia dos Mil Regos, na Ericeira.

“A fazer as coisas mais pessoais, mais pequenas da vida dela, ela consegue contar uma história que nós todos conhecemos. Isso é importante, porque a exposição tem a ver com todos os que a visitam. Não só mulheres, mas homens também; não só portugueses, mas pessoas do mundo todo”, reforça. Nesta exposição, continua, “vê-se que é uma carreira mesmo importante, porque há tanto trabalho aqui que vê-se um talento e uma imaginação incrível, uma imaginação que foi criada em Portugal”.

Paula Rego Interrogation 1950. Private Collection, London © Paula Rego

Paula Rego Interrogation 1950. Private Collection, London © Paula Rego

Nascida em Lisboa, em 1935, Paula Rego deixou Portugal ainda adolescente e estudou na Slade School of Art, tornando-se na única artista mulher do grupo da Escola de Londres, distinguindo-se por uma obra fortemente figurativa e literária, considerada incisiva e singular pela crítica de arte. Nessa época, a artista portuguesa conviveu com nomes de destaque da pintura como Francis Bacon, Lucian Freud, Frank Auerbach e David Hockney.

O reconhecimento público no Reino Unido chegou com uma exposição na Serpentine Gallery, em 1988, seguida por uma residência na National Gallery, em 1990.

Paula Rego foi agraciada em 2010, pela rainha Isabel II, com o grau de Dama Comandante da Ordem do Império Britânico, pela sua contribuição para as artes, e, em 2004, foi elevada a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal, pelo Presidente Jorge Sampaio.

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