Ulay, pioneiro da performance de arte e lendário parceiro de Marina Abramović, morre aos 76 anos

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“Ele era um artista e um ser humano excepcional”, lembra Abramovic sobre seu ex-parceiro

Frank Uwe Laysiepen, mais conhecido como Ulay, morreu aos 76 anos, na Eslovênia. Pioneiro da arte performática, fotografia e arte corporal, ganhou fama durante uma longa colaboração com sua ex-parceira e namorada Marina Abramović.

Ulay morreu na segunda-feira no Instituto de Reabilitação da Universidade de Liubliana, deixando para trás uma fundação em Amsterdã e um espaço de projeto recentemente lançado na Eslovênia. A causa da morte não foi confirmada, embora o artista estivesse em recuperação de um câncer linfático.

“Leva muito tempo, talvez uma vida inteira, para entender Ulay”, disse Abramović certa vez sobre o artista, com quem compartilhou uma das mais famosas relações artísticas. Depois de se conhecerem em 1976, os dois embarcaram em uma série de performances desafiadoras e às vezes fisicamente extremas chamadas “Relations Works”. Os temas frequentemente tinham a ver com as fronteiras entre o eu e o outro, e envolviam Ulay e Abramović de várias formas, gritando nos rostos um do outro, trançando os cabelos juntos, sentando-se imóveis e olhando um para o outro pelo tempo que pudessem suportar.

Marina Abramović and Ulay, Rest Energy, 1980.

Marina Abramović and Ulay, Rest Energy, 1980.

Em um trabalho final, particularmente simbólico, o casal caminhou de ambos os lados da Grande Muralha da China em 1988 e se reuniu no meio para dizer adeus e se separar para sempre.

“Foi com muita tristeza que soube da morte de meu amigo e ex-parceiro Ulay, hoje”, disse Abramović à Artnet News. “Ele era um artista e um ser humano excepcional, que fará muita falta a todos aqueles que o conheceram. Em um dia como esse, é reconfortante saber que sua arte e seu legado permanecerão por muito tempo”.

Ulay nasceu em um bunker de guerra, na cidade alemã de Solingen, em 1943. Seu pai morreu quando tinha apenas 14 anos. Alguns anos depois, em 1969, Ulay fez as malas e deixou a Alemanha, explicando mais tarde que estava perturbado pela “germanidade” e repelido pelo estilo de vida burguês alemão. Ele plantou raízes em Amsterdã, onde manteve uma casa até sua morte. Mais tarde, começou a dividir seu tempo entre Amsterdã e a capital eslovena de Ljubljana.

“Ele fará muita falta á sua família, amigos, comunidade artística e milhares de nós, a quem ele tão profundamente tocou e inspirou”, escreveu a Fundação ULAY nas mídias sociais. “Ele influenciou gerações de artistas e muitos outros que estão por vir – sua memória e legado permanecerão para sempre através de seu trabalho e do trabalho da Fundação ULAY”.

Ainda jovem, Ulay foi pioneiro em fotografia instantânea e auto-retrato. A partir de 1970, trabalhou como consultor da Polaroid, que lhe deu acesso ilimitado a câmeras, filmes e outros materiais. Nos cinco anos seguintes, o artista explorou questões de identidade através de imagens íntimas e closes de si mesmo, bem como de travestis e transexuais.

Ulay e Abramović tiveram um encontro memorável em 2011, durante a apresentação de Abramović no Museu de Arte Moderna de Nova York. Durante a performance “The Artist is Present”, Abramoci permanecia sentada, aguardando visitante após visitante se colocar diante dela e olhar em seus olhos. Em dado momento, quando olhou para cima, encontrou Ulay. O momento, capturado em vídeo, foi visto 17,3 milhões de vezes no YouTube.

No entanto, essa sentimentalidade logo foi abalada quando Ulay entrou com uma ação contra sua ex-parceira em 2015, alegando que ela havia violado um contrato referente a seus trabalhos colaborativos. Em conclusão, um tribunal holandês ordenou que Abramović pagasse royalties a Ulay no total de € 250 mil. Anos depois, em uma entrevista sobre a abertura de Abramović no Museu da Louisiana, o ex-casal disse que havia resolvido suas diferenças e que seu relacionamento era novamente pacífico.

“Ulay era incomparável. O artista mais influente e generoso que eu já conheci, o mais gentil, altruísta, ético, elegante, espirituoso, o mais incrível humano”, escreveu o galerista de Ulay em Nova York, Mitra Korasheh, no Instagram.

O cineasta Christian Lund relembra Ulay como uma “alma bonita” e um amigo, que mesmo enfraquecido pelo câncer, tinha uma presença poderosa na câmera. Em 2017, ele entrevistou o artista para o Museu de Arte Moderna da Louisiana, perto de Copenhague. Lund está editando imagens das entrevistas que fez com Ulay e Abramović para um próximo filme no Louisiana Channel. A colaboração final dos artistas performáticos tem uma nova urgência e pungência. “Estamos ansiosos para compartilhar as gravações verdadeiramente únicas em que os dois artistas deram tudo o que tinham no confronto entre si e com as câmeras”, diz Lund.

Via Artnet

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