SFMOMA vendeu um Rothko por US $ 50 milhões – e agora revela a ampliação de sua coleção

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O valor arrecadado com a venda foi usado na comprar de obras de Alma Thomas, Lygia Clark e Mickalene Thomas, entre outras

Em um esforço para diversificar sua coleção e lidar com as lacunas históricas da arte, o Museu de Arte Moderna de São Francisco (SFMOMA) abriu mão de uma pintura de Mark Rothko, arrecadando US$ 50,1 milhões através de sua venda pela Sotheby’s. Agora, apenas cinco semanas depois, o anunciou a aquisição de 11 obras, de 10 artistas – todas compradas com os recursos da venda.

Entre os acréscimos da coleção estão obras da pintora abstrata americana Alma Thomas, da surrealista americana Kay Sage, da pintora abstrata britânica Frank Bowling e da surrealista britânico-mexicana Leonora Carrington, bem como nomes mais contemporâneos como Mickalene Thomas, Barry McGee e Rebecca Belmore. A brasileira Lygia Clark teve duas obras adquiridas pela instituição.

Mickalene Thomas, “Qusuquzah, une très belle négresse 1” (2011)

Mickalene Thomas, “Qusuquzah, une très belle négresse 1” (2011)

Cada trabalho foi destinado a um elo perdido na coleção permanente da instituição, diz Gary Garrels, curador sênior de pintura e escultura do museu, que liderou o esforço pelos acréscimos junto com a curadora-chefe Janet Bishop. E, no caso de quase todos os artistas, estes são seus primeiros trabalhos a entrar para o acervo do SFMOMA.

“Este é o sonho de um curador”, disse Garrels à Artnet News. “Isso não acontece com muita frequência. Nossos fundos de adesão em um ano normal são muito limitados, mas isso nos permitiu fazer a coisa que mais queremos fazer. Diversificar a coleção é a tarefa mais urgente e essencial para nós”.

A administração do museu retirou uma parte do dinheiro da venda da obra de Rothko para abastecer as novas aquisições e reservou uma quantia adicional para financiar outras aquisições já em andamento para o próximo ano. O restante do dinheiro – representando a maioria dos lucros – será usado para estabelecer um novo fundo de dotação. A receita adicional gerada pelo fundo, disponível daqui a dois anos, será especificamente destinada a compras que ampliem o escopo da coleção permanente.

Bicho Pássaro do Espaço (1960), de Lygia Clark

Bicho Pássaro do Espaço (1960), de Lygia Clark

A decisão do SFMOMA não foi livre de contrariedade. Alguns ficaram particularmente ofendidos por causa da importância e história próxima do Rothko com o museu e se perguntaram por que os ricos membros do conselho do museu não estariam dispostos a desembolsar o dinheiro para financiar as aquisições necessárias.

Mas a iniciativa atual do museu é resultado de vários anos de conversas entre curadores e funcionários administrativos, de acordo com Garrels. A ideia de vender a obra de Rothko, especificamente, surgiu no final do ano passado. “Nós imediatamente começamos a pensar sobre as possibilidades”, explica o curador. “Nós dissemos: ‘Ok, se o Rothko fosse vendido pela quantia X, o que poderíamos fazer com isso? O que poderíamos obter? Começamos a fazer uma lista”.

O SFMOMA não é o único museu a tomar a decisão dramática de vender um trabalho para financiar aquisições que visam corrigir preconceitos históricos. No ano passado, o Museu de Arte de Baltimore vendeu sete obras para criar um fundo que vai financiar futuras aquisições de arte contemporânea de ponta, especificamente as criadas por mulheres e artistas negros. A Galeria de Arte de Ontário também lançou uma iniciativa semelhante.

Forrest Bess, “Seascape with Star”

Forrest Bess, “Seascape with Star”

O movimento está prestes a causar um impacto particularmente significativo no SFMOMA, que tem sido criticado pela natureza muito masculina, branca e de artistas blue-chip de sua coleção. O diretor do museu, Neal Benezra, pareceu reagir a essas críticas, observando através de um comunicado que “poderemos recontextualizar nossa coleção permanente e a Coleção Fisher e expandir as narrativas históricas de arte que compartilhamos com nossos visitantes”.

Garrels aponta a arte pós-guerra de artistas negros e latino-americanos como sub-representada na coleção atual, bem como o trabalho de mulheres surrealistas do início do século XX. As novas aquisições são um passo para lidar com essas deficiências – com trabalhos de Alma Thomas, Lygia Clark e Kay Sage -, mas o museu ainda tem um longo caminho pela frente.

“Eu tenho uma lista de desejos mais longa que o meu braço”, brinca o curador, observando que muitos dos artistas que constituem esta nova rodada de aquisições estão há muito tempo no topo. “Você meio que corta isso. Construir uma coleção é uma questão de ser estratégico. É sobre estabelecer um plano e ser oportunista quando se trata do mercado”.

As novas aquisições abrangem seis décadas e vários gêneros e, na maioria dos casos, são os primeiros trabalhos destes artistas na coleção do SFMOMA. Neste grupo de aquisições, estão:

  • Tarpaulin No. 1 (2018), de Rebecca Belmore
  • Seascape with Star (n.d.), de Forrest Bess
  • Elder Sun Benjamin (2018), de Frank Bowling
  • The Kitchen Garden on the Eyot (1946), de Leonora Carrington
  • Estudo para Bicho Pássaro do Espaço (maquete) (1960) e Bicho Pássaro do Espaço (1960), de Lygia Clark
  • Twilight (1956), de Norman Lewis
  • Untitled (ca. 1993), de Barry McGee
  • Midnight Street (1944), de Kay Sage
  • Cumulus (1972), de Alma Thomas
  • Qusuquzah, une très belle négresse 1 (2011), de Mickalene Thomas

As obras recém acrescentadas começarão a ser expostas ao lado do resto da coleção a partir de agosto deste ano.

Alma Thomas, “Cumulus” (1972)

Alma Thomas, “Cumulus” (1972)

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