Olafur Eliasson leva 30 icebergs a Londres e traz reflexão sobre os efeitos da mudança climática

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Os visitantes podem escalar, ouvir e até provar a instalação enquanto ela se derrete lentamente

Um encontro com a arte pode ser mais eficaz em inspirar as pessoas a mudar seu comportamento do que os fatos? Olafur Eliasson está apostando que sim.

O artista islandês-dinamarquês trouxe 30 icebergs de um fiorde da Groenlândia para Londres, a fim de aumentar a conscientização sobre a urgência da mudança climática. Eliasson resgatou os blocos de gelo do oceano, depois que os efeitos do aquecimento global levaram ao seu desprendimento de uma das maiores camadas de gelo do mundo. Em Londres, os visitantes podem interagir com eles – tocando e andando por entre eles – à medida que derretem em tempo real.

Na terça-feira de manhã, um anel de 24 desses icebergs foi revelado nas margens do rio Tâmisa, em frente à Tate Modern, onde Eliasson será alvo de uma retrospectiva em 2019. Seis outros foram instalados fora da sede da Bloomberg, no distrito financeiro da cidade. (O projeto é apoiado pela Bloomberg Philanthropies e Michael Bloomberg, que também é um enviado especial para a ação climática da ONU).

A instalação, chamada Ice Watch London, é feita de materiais que são seculares, talvez milenares pedaços de neve comprimida, congelados muito antes de a atmosfera da Terra ser poluída pela humanidade. O artista, junto com Minik Rosing, um geólogo da Groenlândia, pescou os segmentos que pesavam entre 1,5 e 6 toneladas do fiorde de Nuup Kangerlua, no sudoeste da Groenlândia. Os blocos eram parte da camada de gelo da Groenlândia, o segundo maior corpo de gelo do mundo depois da Antártida, da qual milhares de blocos similares de gelo se destacam a cada segundo.

Segundo Eliasson, o objetivo é dar às “milhões de pessoas que vivem e visitam Londres a oportunidade de ter um encontro muito tangível com as conseqüências de suas ações. Isso permite que eles vejam e sintam o que estamos perdendo. Eu realmente espero que o Ice Watch possa criar sentimentos de proximidade e presença, e nos fazer engajar”.

Este encontro tangível não foi fácil de realizar. Os blocos foram enviados para Immingham, no Reino Unido, via Dinamarca, em nove contêineres refrigerados e, em seguida, trazidos do porto para Londres por caminhões.

Havia preocupação com o impacto que esse esforço teria sobre o meio ambiente? “Tudo o que fazemos tem uma pegada de carbono e, claro, isso inclui as coisas que fazemos para lidar com a mudança climática”, disse-nos o artista ambientalmente consciente. Enquanto esforços maciços de conscientização sobre o clima, como o Ice Watch, trazem essas questões para o primeiro plano, Eliasson enfatiza que “precisamos pensar sobre isso em todas as nossas atividades, isso precisa fazer parte de como pensamos como uma sociedade”.

Seu estúdio também está trabalhando para entender e minimizar o impacto ambiental da instalação, disse ele. Para estimar os danos, o estúdio contou com a ajuda da Julie’s Bicycle, uma organização sem fins lucrativos que apoia a comunidade criativa para atuar sobre as mudanças climáticas e agir de forma mais sustentável.

Para garantir que o projeto seja sustentável, Eliasson diz que os organizadores planejam doar três vezes a quantia necessária para compensar as pegadas de carbono para a maior instituição de conservação do Reino Unido, a Woodland Trust.

Eliasson montou a instalação duas vezes antes, em Copenhague em 2014, e em Paris no ano seguinte.

Em um comunicado, o geólogo Minik Rosing observou que o derretimento do gelo na Groenlândia elevou o nível do mar global em 2,5 milímetros. Desde a descoberta do efeito estufa em 1896, as temperaturas globais aumentaram em mais de um grau Celsius.

A instalação está sendo apresentada cerca de um mês depois que um painel intergovernamental divulgou um estudo alertando que a humanidade tem apenas 12 anos para limitar os piores efeitos da mudança climática.

Enquanto os londrinos escalam os blocos ou escutam o crepitar da neve derretendo, Eliasson espera que eles sintam – e não apenas intelectualmente – o quão frágil é o gelo onde estão.

O Ice Watch London permanecerá no local até 21 de dezembro. depois disso – e se houver algum gelo remanescente, será exibido em instituições culturais locais que trabalham para educar as pessoas sobre os efeitos das mudanças climáticas.

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