Doris Salcedo | Artista do Mês | Novembro de 2017

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As obras de Doris Salcedo funcionam como arqueologia política e mental, usando materiais domésticos cheios de significado, acumulados ao longo dos anos de uso cotidiano

Nascida em Bogotá, em 1958, Doris Salcedo talvez seja a artista colombiana de maior reconhecimento internacional. Após concluir o bacharelado em Belas Artes na Universidade de Bogotá, em 1980, viajou para Nova York, onde concluiu seu mestrado na Universidade de Nova York. Em seguida, retornou a Bogotá e tornou-se professora na Universidade Nacional da Colômbia. Em suas instalações são frequentes os objetos cotidianos, como móveis de madeira e peças de vestuário.

A obra de Doris Salcedo parte da memória da violência política. Dá forma à dor, ao trauma e à perda, criando um espaço para o luto individual e coletivo. Esses temas poderiam relacionar-se à sua história pessoal, já que membros de sua família estavam entre os muitos desaparecidos no conflito colombiano, mas restringir a significação de seu trabalho às circunstâncias específicas de seu país seria mero reducionismo.

Segundo a própria Doris Salcedo: “Centrei toda minha obra na violência política. No início de cada trabalho há um testemunho. Então todas as obras, todas as instalações que faço estão relacionadas a isso. Parto sempre de um testemunho real e em cima disso vou construindo algo que já não é tão precisamente sobre essa vítima, mas que leva a uma memória que é algo um pouco mais amplo sobre esse tipo de eventos.”

Doris Salcedo foi a oitava artista convidada a ocupar a Turbine Hall da Tate Modern, em Londres. Nela, apresentou instalação “Shibboleth” (2007), uma rachadura de 167 metros de extensão no piso da galeria. Para Salcedo, essa rachadura “representa fronteiras, a experiência dos imigrantes, da segregação, do ódio racial. É a experiência de uma pessoa do terceiro mundo, vindo para o coração da Europa”. Ela vive e trabalha em sua cidade natal, Bogotá.

A arte como reparação

Doris Salcedo aborda o esquecimento e a memória em suas instalações. Em obras como “Unland: A túnica do órfão” (1997) ou a série “Casa viúva” (1990), Salcedo transforma itens corriqueiros, como cadeira e mesa, em memoriais para as vítimas da guerra civil na Colômbia.

Vista da exposição da artista no Pérez Art Museum Miami, 2016

Durante uma conversa com Carlos Basualdo, Salcedo discute sua própria abordagem para a produção de arte: “A forma como uma obra de arte reúne os materiais é incrivelmente poderosa. A escultura é sua materialidade. Trabalho com materiais que já estão carregados de significado, denotações da prática da vida cotidiana… então, eu trabalho até o ponto em que aquilo se torna outra coisa, em que a metamorfose é alcançada”.

Salcedo utiliza objetos do passado, imbuídos de um importante sentido de história e, por meio dessas esculturas da memória contemporâneas, ilustra o fluxo do tempo. Ela une o passado e o presente, promovendo uma reparação do que vê como incompleto.

Instalações

Salcedo utiliza o espaço da galeria ou de lugares públicos para criar arte e ambientes que são politicamente e historicamente carregados. A obra “6 e 7 de novembro” (2002) foi realizada 17 anos após a violenta tomada do Palácio de Justiça, em Bogotá, que ocorreu ao longo dos dias 6 e 7 de novembro de 1985. Ao longo de 53 horas (a duração do cerco original), cadeiras de madeira desciam em movimento lento, quase imperceptível, pela fachada do edifício. Foi a criação de “um ato de memória”.

Doris Salcedo, Untitled, 2003. Intervenção onde 1550 cadeiras foram lançadas entre dois edifícios, para a Bienal de Istambul

Doris Salcedo, Untitled, 2003. Intervenção onde 1550 cadeiras foram lançadas entre dois edifícios, para a Bienal de Istambul

Já “Untitled” (2003) é uma instalação composta de 1.550 cadeiras empilhadas entre dois altos prédios urbanos. A ideia, com esta peça, foi criar “uma topografia de guerra”. Para Salcedo, ela se destina a “representar a guerra em geral e não um evento histórico específico. Ao ver essas 1.550 cadeiras de madeira, amontoadas entre os dois prédios no centro de Istambul, lembro-me de valas comuns. De vítimas anônimas. Penso tanto em caos quanto em ausência, dois efeitos de violência do tempo de guerra”.

Exposições

Salcedo expôs internacionalmente em mostras coletivas, incluindo Carnegie Internacional (1995), XXIV Bienal de São Paulo (1998), Bienal Liverpool de Arte Contemporânea (1999), XI Documenta de Kassel (2002), 8ª Bienal de Istambul (2003), ‘NeoHooDoo’, PS1 Centro de Arte Contemporânea, Nova York e Menil Collection, Houston (2008) e “The New Décor’, Hayward Gallery, Londres (2010).

Exposições individuais incluem New Museum of Contemporary Art, de Nova York (1998), San Francisco Museum of Modern Art (1999 e 2005), Tate Britain, Londres (1999), Camden Arts Centre, em Londres (2001), Tate Modern, Londres (2007), Os anos 80: Uma Topologia (2007), Inhotim, Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho, (2008).

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