Chris Ofili | Artista do Mês | Outubro de 2017

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As telas de Ofili são vibrantes, complexas e meticulosamente executadas, com o uso de materiais diversos – incluindo esterco de elefante – para abordar questões históricas, sagradas e inter-raciais

Chris Ofili é um pintor contemporâneo britânico que trabalha com uma paleta vibrante e uma variedade de texturas aplicadas para examinar a experiência negra contemporânea e histórica. Em obras intrincadas, Ofili desdobra a figuração inventiva em materiais pintados aliados a colagens com gliter, recortes de revistas e resina.

Nascido em 10 de outubro de 1968, em Manchester (Inglaterra), estudou no Chelsea School of Art e no Royal College of Art em Londres. Em 1998, foi o vencedor do prestigiado Prêmio Turner, consolidando seu status como um dos membros mais influentes dos Young British Artists. Desde 2005, vive e trabalha em Trinidad e Tobago. Ele também passa parte do tempo trabalhando em Londres e também no Brooklyn.

Em 2017, Ofili foi nomeado Comandante da Ordem do Império Britânico (CBE), em reconhecimento pelos seus serviços dedicados à arte.

Infância e primeiros estudos

Ofili nasceu em Manchester. Quando tinha onze anos, seu pai deixou a família e voltou para a Nigéria. Em Londres, estudou primeiro na Chelsea School of Art, entre 1988 e 1991, e depois no Royal College of Art, de 1991 a 1993. Quase no final de 1992, ganhou uma bolsa de estudos de um ano na Universität der Künste Berlin.

Ofili visitou Trinidad pela primeira vez em 2000, quando foi convidado por um centro internacional de arte para participar de uma oficina de pintura em Porto de Espanha. Depois, mudou-se em definitivo no ano de 2005, ao lado de sua esposa Roba, com quem havia se casado em 2002.

Carreira

No início de sua trajetória, Ofili foi influenciado por Jean-Michel Basquiat, Georg Baselitz, Philip Guston e George Condo. Peter Doig estava fazendo seu trabalho de pós-graduação no Chelsea College of Arts quando Ofili estava na graduação e logo se tornaram amigos. Em 2014, a crítica de arte Roberta Smith afirmou que Ofili tem muito em comum com pintores como Mickalene Thomas, Kerry James Marshall, Robert Colescott e Ellen Gallagher, além de artistas antecessores como Bob Thompson, Beauford Delaney e William H. Johnson.

Ofili se estabeleceu através de exposições na galeria de Charles Saatchi em Londres e também da exposição itinerante Sensation (1997), tornando-se reconhecido como um dos poucos artistas britânicos de descendência africana e caribenha para integrar o grupo Young British Artists.

Empregando uma variedade diversificada de fontes estéticas e culturais, incluindo as pinturas rupestres do Zimbábue, filmes blaxploitation e pintura modernista, o trabalho de Ofili investiga a interseção de paixão, identidade e representação. Ofili ganhou destaque na década de 1990 com suas pinturas multi-camadas complexas e cheias de humor, onde ele aplicou sua peculiar mistura de materiais como resina, gliter, colagens e, muitas vezes, esterco de elefantes.

Vista parcial da exposição "Chris Ofili: Night and Day"

Vista parcial da exposição “Chris Ofili: Night and Day”

Desde a década de 1990, vem apresentando exposições individuais em, inclusive na Serpentine Gallery. Em 1998, venceu o Prêmio Turner e, em 2003, foi selecionado para representar a Grã-Bretanha na Bienal de Veneza daquele ano. Seu trabalho para o Pavilhão Britânico foi feito em colaboração com o arquiteto David Adjaye. Em 1992, ele ganhou uma bolsa de estudos que lhe permitiu viajar para o Zimbábue, onde estudou pinturas rupestres, que também influenciou em seu estilo.

Entre 1995 e 2005, Ofili concentrou-se em uma série de aquarelas, cada uma com cerca de 25 x 16 cm, produzidas em uma única sessão. Elas basicamente apresentam cabeças de homens e mulheres, assim como alguns estudos de flores e pássaros. As pinturas de Ofili também fazem referência a filmes blaxploitation e gangsta rap, buscando questionar estereótipos raciais e sexuais de forma humorística. Em uma série de rostos que Ofili chamou de Harems, cada composição consiste em um homem com até quatro mulheres de cada lado dele.

Depois de se mudar para Trinidad em 2005, Ofili iniciou uma série de pinturas azuis inspiradas pelos Jab Jab ou “demônios azuis”, que participam do Carnaval de Trinidad e Tobago, e o grupo expressionista de artistas alemães e russos, Der Blaue Reiter.

Essas pinturas exibem um fundo em prata em acrílico com camadas de pigmentos escuros a óleo por cima. Mais tarde, as obras sequenciais a estas foram exibidas na individual “Chris Ofili: Day and Night”, no New Museum de Nova York, instaladas em uma sala pouco iluminadas, fazendo com que os espectadores ajustassem seus olhos à escuridão para absorver melhor as telas.

Afronirvana, 2002

Afronirvana, 2002

Materiais controversos – esterco de elefante

Os trabalhos de Chris Ofili são vibrantes, tecnicamente complexos e meticulosamente executados, consistindo de camadas de tinta, resina, brilho e colagem. Usando padrões pesadamente decorativos e intrincados, ele explora temas amplamente diversos, incluindo ideais sagrados, identidade, história negra, alta e baixa cultura e autoconsciência.

O trabalho de Chris Ofili geralmente incorpora esterco de elefantes, tratado quimicamente para evitar a putrefação, odor e moscas. As pilhas são colocadas diretamente na tela ou usadas para dar suporte às pinturas quando exibidas no espaço da galeria. Para o artista, o esterco liga a pintura – literalmente e psicologicamente – à Terra. Como Chris Ofili diz: “De alguma forma, a pintura se sente mais relaxada, ao invés de ser presa na parede como se estivesse sendo crucificada”.

As pinturas de Chris Ofili lidam com questões de identidade e experiência africanas e freqüentemente empregam estereótipos raciais para desafiá-los. A pintura ‘Afrodizzia’ (1996; Londres, Saatchi Gal.), por exemplo, faz referência ao estereótipo da potência sexual negra; os rostos recortados de revistas recebem penteados afro dos anos 1970, seus nomes escritos em pedaços de esterco.

Freeness

Ofili foi fundador e principal responsável pelo projeto Freeness, que reuniu artistas, produtores e músicos de grupos étnicos minoritários (asiáticos e africanos) na tentativa de expor a música que pode ser desconhecida em outros espaços.

“Freeness” permitiu que a criatividade de artistas de minorias étnicas britânicas contemporâneas desconhecidas fosse ouvida. O resultado da turnê, que passou por 10 cidades no Reino Unido, resultou em Freeness Volume 1 – uma compilação de trabalhos que foram exibidos durante a temporada.

A partir da esquerda: “No Woman, No Cry” (1998)e “The Holy Virgin Mary” (1996), em exposição no New Museum, Nova York, Outubro de 2014

A partir da esquerda: “No Woman, No Cry” (1998)e “The Holy Virgin Mary” (1996), em exposição no New Museum, Nova York, Outubro de 2014

The Holy Virgin Mary

Uma das telas mais conhecidas de Ofili é sua controversa The Holy Virgin Mary (1996) que, quando exposta no Brooklyn Museum como parte da mostra “Sensation” provocou uma série de protestos. Tanto pelo tema quanto pelo uso de esterco de elefante na tela, o então prefeito Rudolph Giuliani repudiou o trabalho como “doentio” e a pintura foi posteriormente vandalizada – embora tenha sido restaurada com sucesso. Apesar disso, o trabalho de Ofili continuou a ser exibido em todo o mundo, notavelmente em Nova York, com “Chris Ofili: Night and Day”, retrospectiva aclamada pela crítica no New Museum of Contemporary Art em 2014.

Mercado de arte

Ofili é representado pela Victoria Miro Gallery (Londres), David Zwirner (Nova York) e Contemporary Fine Arts (Berlim). “Orgena”, um retrato reluzente de uma mulher negra criada pelo artista para sua exposição premiada pelo Turner, em 1998, foi vendida a um colecionador americano por 1,8 milhão de libras esterlinas na Christie’s de Londres em 2010. Em 2015, o colecionador de arte David Walsh vendeu “The Holy Virgin Mary”, obra de Ofili com cerca de 2,5 metros de altura, por 2,9 milhões de libras na Christie’s.

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