Wangechi Mutu | Artista do Mês | Dezembro de 2016

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A artista contemporânea Wangechi Mutu conquistou o respeito internacional, sendo reconhecida por seu trabalho que combina gênero, raça, história da arte e identidade pessoal

A artista e escultora queniana Wangechi Mutu explora a violência e a imagem errônea que as mulheres, particularmente as negras, vivenciam no mundo contemporâneo. Fazendo referência a artistas como Gustav Klimt, Egon Schiele, Chris Ofili e Romare Bearden, além de movimentos artístico-históricos como o surrealismo, seus desenhos e colagens incorporam imagens de textos antropológicos, etnográficos e médicos, Vogue e pornografia. Mutu normalmente trabalha em papel ou Mylar, aplicando suas figuras recortadas juntamente com tinta acrílica e materiais como pérolas de plástico. Ela aborda a sua arte – que inclui esculturas e instalações com imagens híbridas – usando a estética da rejeição e da miséria para explorar o esperançoso ou o sublime.

Considerada por muitos como uma das mais importantes artistas africanas contemporâneas dos últimos anos, Mutu vive e trabalha no Brooklyn, Nova York.

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Mutu foi educada em Nairobi, no Convento Msongari de Loreto (1978-1989) e, mais tarde, estudou no United World College of Atlantic, no País de Gales (I.B., 1991). Mutu mudou-se para Nova York na década de 1990, buscando estudar Belas Artes e Antropologia na New School for Social Research e na Parsons School of Art and Design. Ela concluiu o bacharelado na Cooper Union em Advancement of the Arts and Science em 1996 e, em seguida, o mestrado em Escultura da Universidade de Yale, em 2000.

Multi-meios

O trabalho de Wangechi Mutu se apresenta em diversos formatos, incluindo colagem, vídeo, performance e escultura, e investiga temas ligados a gênero, raça e colonialismo. No centro, ela frequentemente usa uma figura performática ou em pose, como um subterfúgio para focar o olho e destravar o diálogo sobre a percepção, tanto no plano pessoal quanto no político.

Ela está interessada principalmente em como a identidade gira em torno de um tipo de contrato social, que só pode ser quebrado através da reinvenção pessoal e política e uma reescrita dos códigos que foram usados para nos representar. Seu trabalho propõe a necessidade de uma consciência múltipla e um senso de identidade como performance para poder refazer as regras que ligam nossa imaginação. A fim de reorganizar a realidade que nos serve imagens desagradáveis de nós mesmos, Mutu criativamente desmonta metáforas antigas e as transforma intrincadamente em novas outras.

Mwotaji (The dreamer), 2016

Mwotaji (The dreamer), 2016

Através de performance, colagens, vídeo e esculturas, ela continua a pensar sobre as complicações do ser e como o corpo físico desempenha um papel tão importante na determinação de suas experiências, sobrevivência e capacidade de entender o que é. Seus personagens têm a aparência de cyborgs ou espécies híbridas, muitas vezes alteradas e aprimoradas, enquanto se posicionam para sugerir poder, desconhecimento e a inerente vulnerabilidade feminilidade. Em sua própria criação há um questionamento do papel que cada um de nós desempenha em nossa autodeterminação, no bem-estar de outros seres humanos, além da consciência de múltiplas perspectivas culturais e da saúde de nosso planeta.

Mutu tem trabalhado extensivamente com a película de poliéster Mylar. Manipulando tinta e acrílico em piscinas de cor, ela aplica com cuidado nestas superfícies imagens recortadas de inúmeras fontes – diagramas médicos, revistas de moda, antropologia e textos de botânica, pornografia e artes africanas tradicionais.

As obras resultantes são uma repreensão às convenções de estética e etnografia e erotismo que sustentam tais publicações, oferecendo em contrapartida uma existência livre de determinismo biológico ou condicionamento psicológico. Em colagens recentes, um substrato de vinil e linóleo permite um terreno mais densamente texturizado e escultural. Técnicas pictóricas são empregadas ao lado de figuras compostas, habilmente recortadas e coladas – uma das assinaturas de Mutu.

Além disso, a linguagem visual de Mutu é ainda mais enriquecida pelo uso de materiais inesperados como chá, cabelos sintéticos, terra, penas e areia, entre outros – muitos dos quais estão imbuídos de suas próprias significações culturais.

A escala é significativa nas colagens de Mutu, que variam desde cartões postais e obras em papel tamanho A4, até trabalhos muito maiores em lâminas de poliéster. O foco das obras é a busca do corpo feminino negro e como ele é representado na mídia popular; nas palavras da artista, “onde as mulheres são colocadas psicológica e culturalmente e como nós as valorizamos ou desvalorizamos”.

Mutu tem experimentado a animação, a pintura em novas superfícies, infundindo o espaço com elementos viscerais, implementando o mesmo rigor e compromisso com representações mais ousadas e complexas do sujeito africano e com um investimento mais profundo em assuntos tipicamente relegados às fronteiras, margens e pontos silenciosos de nossa história compartilhada.

Profundamente preocupada com o mercantilismo ocidental, Mutu explicou: “Muito do meu trabalho reflete a incrível influência que a América tem tido sobre a cultura africana contemporânea. Algumas delas são insidiosas, algumas são inócuas, outras são invisíveis”.

Exposições e prêmios

As obras de Wangechi Mutu foram tema de grandes exposições individuais em instituições como o Nasher Museum of Art at Duke University, North Carolina (2013), Brooklyn Museum of Art, Nova York (2013), Museum of Contemporary Art, Miami (2014), Sydney Museum of Contemporary Art, Sydney, Australia, Musée d’art contemporain de Montréal, Montreal (2012); Staatliche Kunsthalle Baden-Baden, Baden-Baden, (2012); Deutsche Guggenheim, Berlim (2010); Art Gallery of Ontario, Ontario (2010); Museum of Contemporary Art, San Diego (2009); and Kunsthalle Wien, Vienna (2008).

Mutu também se apresentou na 56ª Bienal de Veneza (2015) e outras instituições como o Grand Palais, Paris (2015); Museum of the African Diaspora, San Francisco (2015); Louisiana Museum of Modern Art, Humblebaek (2015); Smithsonian National Museum of African Art, Washington, DC (2015 e 2014); Frankfurter Kunstverein, Frankfurt (2014); Museum of Contemporary Art Chicago, Chicago (2014); Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2013); Tate St. Ives, United Kingdom (2013); National Gallery of Canada, Ontario (2013); Kochi-Muziris Biennale, India (2012); Palais de Tokyo, Paris (2012); Brooks Art Museum, Memphis (2012); MOCA, Los Angeles (2010); Vancouver Art Gallery, Vancouver (2010); Tate Liverpool, United Kingdom (2010); 10th Biennale d’art Contemporain de Lyon (2009); e The New Museum, New York (2008). Em 2010 a artista recebeu o prêmio de Artista do Ano pelo Deutsche Bank.

 

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