Dez revolucionários que estão mudando o mundo da arte

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A lista é subjetiva e não abrangente, mas apresenta um olhar sobre as personalidades que estão dando nova forma à arte das Américas

Pelo segundo ano, o site “Artnet” relaciona dez pessoas do mundo das artes que estão rompendo o status quo. A seleção é subjetiva e traz indivíduos que deram novas formas ao cenário. Mudanças no “jogo” são necessárias em qualquer indústria, especialmente nas artes. A relação traz de artistas como Tania Bruguera e Derrick Adams, engajados com ativismo e práticas curatoriais, alterando os parâmetros do que significa ser artista, até colecionadores como Estrellita Brodsky, que está apresentando a arte latino-americana por conta própria. São figuras que estão mudando a forma como vemos a arte.

Pedro Reyes

1. Pedro Reyes
Doomocracy (algo como ‘desgraçacracia’ ou ‘ruinocracia’, em tradução livre), criação do artista mexicano Pedro Reyes, é um dos assuntos do momento, tocando em questões como a sucessão presidencial dos EUA. A exposição dele, encerrada em 06/11/16, no Brooklyn Army Terminal, tratou de dois eventos na mente dos norte-americanos de forma obsessiva: Halloween e a eleição presidencial. A produção de Reyes foca em problemas sociais, com a ideia de utilizá-los no desenvolvimento de um mundo melhor. Como exemplo, transforma armas em instrumentos musicais.

2. Tania Bruguera
Entre os “artivistas” que ganharam manchetes nos últimos anos, poucos rivalizam com Tania Bruguera em relação ao apoio que tem da crítica, de artistas e do público. A artista de Cuba foi presa naquele país em 2015 por conta da leitura de cem horas de “As Origens do Totalitarismo” (1951). Ela utiliza a arte como aparelho de ativismo crítico, fazendo uso de Instagram, Kickstarter e YouTube. No início de outubro, lançou uma nova performance em vídeo na qual se nomeia candidata à presidência de Cuba em 2018. O projeto é satírico, já que Cuba é um país de um só partido político. A artista convida as pessoas a fazerem o mesmo que ela, um esforço para mudar a “cultura de apatia”. A produção de Tania levanta questões provocativas sobre as liberdades civis em Cuba.

3. Jamillah James
Curadora do novo Institute of Contemporary Art de Los Angeles, Jamillah James é um dos nomes mais promissores da instituição. As exposições de peso que ela já realizou (como Njideka Akunyili-Crosby, Alex Da Corte, John Outterbridge, Simone Leigh e Charles Gaines) são indicativos do que Jamillah poderá realizar quando o instituto abrir em 2017.

4. Timothy Blum
Quando a fama chegou batendo, Timothy Blum era o responsável do mundo das artes de abrir a porta. Recentemente, a escultura utilizada no clipe “Famous”, do rapper Kanye West, representando celebridades, fez esse caminho, com uma exposição privada durante um fim de semana na galeria Blum & Poe, de Los Angeles. Alimentando controvérsias, a galeria também organizou há pouco uma exposição sobre canabis (planta da qual a maconha é derivada) à la Richard Prince (conhecido por copiar outros artistas, questionando as autorias). A Blum & Poe representa uma clara ruptura na intensa e contínua discussão sobre arte e celebridades. Se a galeria tem algum plano junto a alguma celebridade, ninguém sabe, mas não dá para negar que ela é pioneira na questão.

5. Yusaku Maezawa
Mesmo com uma fortuna invejável (segundo a Forbes, US$ 2,8 bilhões), o magnata japonês do ramo da moda Yusaku Maezawa não era conhecido. Mas isso mudou em maio passado, em leilões da Christie’s, Sotheby’s e Phillips, quando comprou uma obra de Jean-Michel Basquiat por US$ 57,2 milhões, além de outras seis: Christopher Wool (US$ 13,9 milhões), Richard Prince (US$ 9,7 milhões), Jeff Koons (US$ 6,9 milhões), Adrian Ghenie (US$ 2,6 milhões), Alexander Calder (US$ 5,8 milhões) e Bruce Nauman (US$ 1,69 milhão). Após as aquisições, ele disse que pretende colocar as obras em exposição pública em Tóquio, na fundação de arte que mantém, a qual recebe mostras de coleções duas vezes por ano.

6. Derrick Adams
Por conta da exibição de uma instalação no Pioneer Works, no Brooklyn, neste ano, simultaneamente a uma mostra no Gateway Project Spaces, em Newark, o artista Derrick Adams disse ao “The New York Times” que a prática artística dele é, em geral, um meio caminho para encontrar o espectador. Neste ano, ele teve uma série de oportunidades de fazer isso. Adams, que foi diretor curatorial da Rush Arts Gallery por dez anos, organizou em março uma seção especial da feira Volta, para a qual convidou nove promissores artistas, entre eles Doreen Garner, Ibrahim Ahmed e Kate Clark. Também assinou a curadoria de “The Beat Goes On”, uma exposição com obras visuais e sonoras de artistas como Elia Alba, Kevin Beasley e Tameka Norris na School of Visual Arts. Não há dúvida que o artista-curador está em ascensão e que ele está ansioso por fazer os holofotes brilharem sobre outros artistas.

Estrellita Brodsky

7. Estrellita Brodsky
Falando de mecenato, filantropia e poderio acadêmico, é raro encontrar alguém tão proeminente quanto Estrellita Brodsky, criada em Nova York e filha de imigrantes da Venezuela (o pai) e do Uruguai (a mãe). Ele graduou-se em história da arte impressionista no Hunter College em 1996, com Ph.D em história da arte no Institute of Fine Arts da New York University (NYU ) em 2009 – dissertação focada em artistas latino-americanos radicados em Paris no pós-guerra, como Jesus Soto e Julio Le Parc. Em 2008, foi curadora da primeira e única retrospectiva de Carlos Cruz-Diez nos EUA, na Americas Society. Em 2012, assinou a curadoria da mostra de Soto na Grey Gallery da NYU. Ela e o marido, Daniel, diretor do Metropolitan Museum of Art (Met), são incansáveis divulgadores e apoiadores da arte latino-americana, sem mencionar o pioneiro apoio a artistas cubanos como Carmen Herrera. O casal criou duas curadorias no Met no início de 2014, uma delas volta à arte latino-americana. Estrellita também integra o comitê de aquisição de arte latino-americana e do Caribe do MoMA de Nova York. Recentemente, como parte da Daniel and Estrellita B. Brodsky Family Foundation, abriram no Chelsea o Another Space, também voltado à arte da América Latina, promovendo exposições de qualidade como a do brasileiro Paulo Bruscky, além de subsidiar museus e universidades em pesquisas sobre arte latino-americana. Estrellita é curadora convidada da grande retrospectiva de Julio parc que será realizada no Perez Art Museum, em Miami, em dezembro, durante a feira Art Basel.

8. Amy Cappellazzo
Desafiando a tendência dos leilões, Amy Cappellazzo apostou em um negócio de galerista independente e fez um círculo completo. Após ser vice-presidente da Christie’s e diretora do departamento de arte contemporânea e pós-guerra, ela saiu da casa de leilões e lançou a empresa de consultoria Art Agency Partners (AAP) em março de 2014, junto a Allan Schwartzman. No início deste ano, a Sotheby’s pagou US$ 50 milhões e adquiriu o pequeno e relativamente novo negócio. A temporada de leilões de novembro deve mostrar se a extensa lista de contatos de Amy e as técnicas de vendas inteligentes dela valem a pena.

9. David Adjaye
O escritório do arquiteto David Adjaye, natural da Tanzânia e radicado em Londres, é o responsável pelo projeto do National Museum of African American History and Culture, em Washington DC, inaugurado recentemente. Ele também vai assinar o Studio Museum, no Harlem. Autor de projetos em locais como Moscou e Oslo e com trabalhos previstos em cidades como Denver, a influência dele se expande rapidamente.

10. Vik Muniz
O brasileiro Vik Muniz é conhecido pelo fazer artístico radical e inusual, como o uso de materiais como açúcar, chocolate e retalhos de fotos e cartões postais. Essa característica não-ortodoxa se repete em praticamente tudo o que ele faz. Em recente exposição na galeria paulistana Nara Roesler, com 70 obras, ele brincou com as expectativas dos espectadores e as certezas visuais, misturando materiais reais com imagens fotografadas, desafiando o público a separar o real do reproduzido. Certa vez, ele disse: “Sou fotógrafo quando estou fotografando e desenhista quando estou desenhando, mas artista é o que estou sempre me tornando”. A nomeação ao Oscar em 2010 pelo documentário “Lixo Extraordinário” levou Muniz ao nível global da fama. O filme o retratou criando “imagens de lixo”, trabalho em parceria com catadores de lixo em um grande aterro sanitário no Rio de Janeiro. Todo o dinheiro arrecadado com a venda das obras foi destinada aos catadores. A energia de Muniz é evidenciada também nos dois recentes projetos do artista: a gigante instalação na cerimônia de abertura da Paralimpíada e a Escola Vidigal, um escola experimental em uma favela do Rio que deve abrir em breve, com pré-escola e atividades pós-escola para crianças de 4 a 8 anos. Projetada pelos arquitetos Basil Walter e Brenda Bello, da BWArchitects, de Nova York, é um dos 15 projetos que representaram o Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza neste ano. A fachada tem uma obra do artista de rua francês JR.

Publicado originalmente no site Artnet em 24/10/16;
Traduzido por Everaldo Fioravante, via Mapa das Artes

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