Karel Appel | Artista do Mês | Outubro de 2016

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As obras do pintor são reconhecidas por suas características marcantes, de cores vibrantes e traços fortes, que marcaram o início de uma nova era da pintura

Karel Appel foi um influente pintor holandês, conhecido por suas pinturas abstratas figurativas que empregavam um uso bastante particular e expressivo de cores, formas e traços. Como resultado, este seu estilo tão próprio o tornou internacional reconhecido. O trabalho de Appel carrega a influência de Jean Dubuffet e do movimento Art Brut, alinhado ao seu arrojado estilo gestual e à rejeição dos valores culturais e artísticos encontrados na arte mainstream do pós-guerra.

Suas pinturas incorporam aplicações robustas de cores vibrantes e violentas, que aparecem metodicamente golpeadas com pinceladas frenéticas, muitas vezes retratando uma inocência infantil ou esquizofrênica sobre o mundo. Desde o início, os curadores de arte não puderam ignorar o trabalho de Appel, que tem sido exibido em grandes museus ao redor do mundo, incluindo o Museu de Arte Moderna de Nova York, o Museu Guggenheim de Manhattan, o Museu de Belas Artes de Boston e da Galeria Tate em Londres. Appel, reconhecido como um dos mais importantes pintores expressionistas holandeses de todos os tempos, também foi um ávido gravurista, escultor e ceramista.

Nascido em 1921, em Amsterdã, estudou no Rijksakademie van Beeldende Kunsten (Academia Real de Belas Artes) entre 1940 e 1943. Sua primeira exposição individual aconteceu em 1946, na Het Beerenhuis, Groningen (Holanda); ele também participou da Jonge Schilders (Jovens Pintores) no Stedelijk Museum, em Amsterdã.

Apesar de jovem, seu o estilo já era distinto e bem estabelecido, e o mundo da arte foi imediatamente arrebatado por ele. À primeira vista, suas pinturas aparentam ser completamente abstratas, mas depois de observa-las mais de perto, fica claro de que há indícios de figuras humanas e / ou animais incluídos. Alguns espectadores encontram tons de espiritualidade, enquanto outros veem terror. Appel encontrou muitos admiradores, mas também muitos críticos que achavam que a essência do seu trabalho imitou muito de perto Pablo Picasso, enquanto seu uso de cores se assemelhava ao de Henri Matisse – embora ele misturasse essas características em seu próprio estilo, estritamente pessoal. Em 1947, começou a esculpir com materiais reaproveitados, pintando-os com cores brilhantes, como o vermelho, amarelo, azul e preto.

Além de museus, Appel dispôs suas obras em paredes de restaurantes, além de ser contratado para pintar murais inúmeros edifícios públicos e privados de todo o mundo. Em 1949, Appel pintou um mural no prédio da prefeitura de Amsterdã. A obra, chamada “Questioning Children”, retratava rostos sorridentes, ainda que em luto, das crianças abandonadas após a guerra. O mural criou tanta controvérsia e deixou os trabalhadores do edifício tão desconfortáveis, que permaneceu coberto por quase uma década.

Embora fosse um artista de personalidade marcante, Appel foi amplamente associado ao grupo COBRA, que ajudou a fundar em Paris em 1948. O grupo era composto por artistas holandeses, belgas e dinamarqueses, e o nome era um acrônimo para Copenhagen, Bruxelas e Amsterdã – cidades natais dos membros fundadores. O movimento Cobra, que impulsionou o expressionismo espontâneo e as características abstratas, representou uma virada da arte europeia mais formal e geométrica daquele tempo.

O influente grupo desencadeou o movimento pós-guerra de arte moderna holandesa, mas seus membros não ficar juntos por muito tempo. Os artistas expuseram, no início dos anos 1950, ao lado de nomes como Jackson Pollock, mas separaram-se em seguida.

Descontente com as críticas, Appel mudou-se para Paris em 1950, onde deu continuidade ao seu trabalho. Lá, o escritor Hugo Claus o apresentou ao crítico de arte Michel Tapié, que organizou inúmeras exposições de seu trabalho. Em 1952, juntou-se ao Art Informel, outro grupo de artistas abstratos, que incluía Michel Tapié, Henri Michaux, Willem de Kooning, Jackson Pollock e Sam Francis.

Em 1953 Appel apresentou-se em uma individual no Palais des beaux-arts em Bruxelas. Em 1954, recebeu o Prêmio UNESCO na Bienal de Veneza e foi convidado a executar um mural para o restaurante do Stedelijk Museum em 1956. No ano seguinte, o artista viajou ao México e aos Estados Unidos, e recebeu um prêmio na Ljubljana Bienal, na Ioguslavia. No final da década de 1960, o artista se mudou para Chateau de Molesmes, ao sudeste de Paris.

Ainda durante a década de 1950, Appel ficou encantado com o Jazz e pintou retratos dos mestres deste estilo, como Dizzy Gillespie, Miles Davis, Count Basie e Sarah Vaughan.

Apesar de nunca ter inovado estilisticamente em suas pinturas, Appel apresentou variações em suas temáticas. Durante o início da década de 1960, ele pintou uma série de nus femininos, que muitos críticos comparados as formas biomórficas pintadas pelo artista Willem de Kooning.

Nas décadas de 1970 e 1980, Appel continuou a trabalhar simultaneamente em pinturas e esculturas, direcionando sua abstração cada vez mais às pinturas de janelas – série iniciada em 1980. Appel gradualmente introduziu paisagens em sua iconografia, que tornou-se mais consistente na última década de sua carreira.

Na década de 1980, Appel começou uma parceria com o poeta Americano Allen Ginsberg, que continuaria ao longo dos próximos anos. No final de sua carreira, seu trabalho foi alvo de inúmeras exposições individuais, organizadas por museus como o Boijmans Van Beuningen, Rotterdã (1982); Castello di Rivoli – Museo d’arte contemporanea, Turim, Italia (1987); National Museum of Art, Osaka (1989); Stedelijk Museum (1998, 2000 e 2001) e Cobra Museum voor Moderne Kunst, Amstelveen, Holanda (2001).

Appel faleceu em maio de 2006, em sua casa em Zurique, em decorrência de uma doença cardíaca. Antes de sua morte, o artista criou a Karel Appel Foundation, cujo objetivo é preservar e promover as obras do artista. Em seu obituário, o escritor Margalit Fox do New York Times descreveu assim o seu legado: “Alguns críticos enxergaram violência ou até loucura no trabalho de Mr. Appel, com seu uso liberal do vermelho e suas imagens semi-figurativas de membros grotescos e rostos distorcidos. Mas para outros espectadores, o uso irrestrito de camadas de tinta, que muitas vezes Appel espremia direto dos tubos por sobre a tela, encarnavam a própria força da vida”.

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