Na crise, SP-Arte sobrevive como a feira das ‘coisinhas’ de até R$ 60 mil

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Nem tudo está perdido. Nos últimos dias da SP-Arte, feira que encerrou sua 12ª edição no último fim de semana no pavilhão da Bienal, alguns galeristas respiraram aliviados.
Essa que se anunciava uma feira desastrosa, no auge da crise econômica e do imbróglio político que incendeia Brasília, teve pelo menos uma venda bombástica –uma tela de Beatriz Milhazes saiu por cerca de R$ 16 milhões– e muitas outras bem menores.

No geral, “coisinhas” de até R$ 60 mil –nas palavras de uma galerista– tiveram boa saída. Nas casas mais estabelecidas, como Luisa Strina, Fortes Vilaça e Nara Roesler, algumas peças foram compradas por até R$ 600 mil, mas nada na faixa de R$ 1 milhão, como no passado.

Uma tese entre os marchands é que a ausência de algumas grandes galerias estrangeiras devolveu o foco ao mercado doméstico.

De fato, entre as gigantes de fora que ainda vêm a São Paulo, como a americana David Zwirner e a britânica White Cube, as vendas caíram –a casa de Nova York realizou transações na faixa dos R$ 30 mil, enquanto a de Londres não passou dos R$ 2 milhões por suas peças mais caras –contra R$ 4 milhões em 2015.

Outras estrangeiras, no entanto, tiveram prejuízo. A italiana Cardi não havia feito nenhuma venda até pouco antes do fim da feira, mesmo caso da uruguaia Sur.

Estruturada em três alas –o térreo para galerias emergentes, o primeiro piso para a arte moderna e suas obras mais caras e o segundo para a contemporânea, que também atinge valores altíssimos–, a SP-Arte reflete um sistema de castas, reforçando a impressão de alguns analistas de que a crise instalada no país é uma revolta da casa-grande.

Marchands no topo do mercado estão indignados com a retração da economia que quase inviabiliza vendas estratosféricas, mas não o grosso das transações, enquanto galerias menores vêm minguando, quando não fechando.

“Não existe crise no andar de cima”, dizia uma galerista do térreo. A polarização política entre alguns artistas e galeristas, aliás, esteve à flor da pele, com relatos de brigas entre aqueles contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff e os a favor.

Uma cena resumiu o clima: na saída da festa de um colecionador nos Jardins, um artista gritava “não vai ter golpe” a plenos pulmões. Na rua àquela hora, só os últimos convidados ainda trôpegos, os seguranças e os muros cegos dos casarões do bairro.

Texto de Silas Martí publicado no jornal Folha de S. Paulo | 13/04/16

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