Rachel Whiteread | Artista do Mês | Abril/2016

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Rachel Whiteread é um dos principais nomes entre os escultores britânicos contemporâneos, reconhecida especialmente pela utilização das técnicas de moldagem e fundição em suas obras. Uma das integrantes do grupo denominado Young British Artists (YBA), participou da icônica exposição “Sensation”, em 1997, na Royal Academy de Londres.

Em 1993, tornou-se a primeira mulher a receber o Turner Prize, graças à sua obra “House” (que seria demolida no ano seguinte). A obra era uma réplica em tamanho natural do interior vazio de uma casa em estilo vitoriano condenada do bairro londrino de East End, feita através da pulverização de concreto líquido dentro da edificação vazia, antes que suas paredes externas fossem removidas.

House, 1993

House, 1993

Rachel Whiteread (1963) nasceu em Londres, lugar onde vive e trabalha. Estudou pintura na Brighton Polytechnic (1982-85) e escultura na Slade School of Art, University College, em Londres (1985-87). Sua primeira exposição individual aconteceu em 1988 e representou o representou o Reino Unido na Bienal de Veneza em 1997.

A artista é conhecida, sobretudo, por criar moldes de objetos domésticos simples e de espaços ou elementos arquitetônicos. Através do processo de molde e fundição, busca capturar o espaço vazio, negativo ou desocupado. Desta forma, cria esculturas elegantes e poéticas que exploram arquitetura, espaço, ausência e memória. Muitas vezes inspiradas pelo aspecto físico do corpo humano, suas obras são pungentes na exploração de espaços íntimos domésticos e objetos familiares.

Whiteread geralmente usa materiais industriais como gesso, resina e borracha para moldar este espaço negativo, em volta ou no interior de um objeto – a escuridão sombria debaixo de uma cama, o vazio dentro de uma simples caixa de papelão, os espaços em torno de uma numerosa coleção de livros. As esculturas conservam a textura e a forma dos objetos originais, mas são fantasmas misteriosos de suas formas iniciais.

Suas obras públicas em grandes formatos são, provavelmente, a marca registrada de seu trabalho. Além da própria “House”, destacam-se “Water Tower” (molde em resina das torres de água onipresentes no skyline de Nova York); “Monument” (pedestal invertido colocado sobre outro pedestal na Trafalgar Square) e o Memorial do Holocausto em Viena, também conhecido como “Nameless Library”, uma biblioteca impenetrável de livros invertidos de cabeça para baixo, homenagem aos milhares de judeus austríacos mortos durante a Segunda Guerra Mundial; a escultura também faz conexão com o presente, apontando para o que foi excluído dos livros oficiais da História. Vencedor de uma competição para o memorial, este projeto atraiu objeções tanto em nível local quanto nacional e levou cinco anos para ser construído.

Memorial do Holocausto, Viena

Memorial do Holocausto, Viena

Assim como suas esculturas menores, estas obras monumentais se distinguem por suas sensibilidades minimalistas e a capacidade de evocar quietude e contemplação. Entres suas obras recentes criadas sob encomenda estão “Tree of Life” (ornamentos para a histórica fachada da Whitechapel Gallery em Londres, em 2012) e “Cabin”, escultura pública permanente para a Governors Island, Nova York, em 2015.

O trauma histórico da Segunda Guerra mundial também é o foco de duas esculturas que estão no Guggenheim. As peças intitulam-se “Untitled (Apartment)” e “Untitled (Basement)”, que são os moldes negativos de um cômodo e das escadas de seu estúdio, então recém-adquirido, em Londres. O edifício era originalmente uma igreja Batista, e mais tarde, no início dos anos 1900, uma sinagoga. Bombeada durante a Segunda Guerra Mundial, o templo foi reconstruído em meados da década de 1950 e depois fechado, dando lugar a uma empresa têxtil até que Whiteread o adquirisse. As esculturas enfatizam a geometria simples desta arquitetura que se proliferou após o período e ecoam o espírito transitório da cultura pós-guerra, atenuando os limites entre o público e o privado, o passado e o presente, assim como o religioso e o profano, e evocando os problemas estéticos e econômicos daquela época.

Rachel Whiteread criou um corpo de trabalho único, onde objetos domésticos simplórios e espaços arquitetônicos são transformados em obras de arte. No final da década de 1980, Whiteread começou a fazer moldes de objetos de casa como camas, lavatórios, banheiras e guarda-roupas, enfatizando os aspetos privados da vida doméstica e refletindo o corpo humano em termos simbólicos. Seus primeiro trabalhos usavam elementos autobiográficos. Mais tarde, as obras avançaram para uma expressão mais universal e seus títulos tornaram-se correspondentemente mais prosaicos.

A artista escolhe a técnica de fundição não tanto para construir, mas sim para materializar o vazio inerente e envolvente dos objetos. Assim, ainda que suas esculturas possam formalmente se referir a artistas como Carl Andre ou Donald Judd, conceitualmente ele transcende a ideia minimalista do elemento em série e seu vínculo simbólico com a esfera de objeto industrial. Do mesmo modo, se distancia pela apreciação plástica das qualidades dos materiais, usando gesso, cimento, resina e borracha.

A escultura evidencia a finalidade de Whiteread de subversão dos objetos e a encenação do drama do cotidiano, onde questiona o ato de habitar. O resultado é, sejam a casa, a cama, o armário, a mesa ou a banheira, os objetos rompem a conexão com o real, já que transformados em escultura perdem sua função primordial e seu uso.

Tanto a fundição quanto a demolição envolvem a ideia da ausência, como ilustra sua série de fotografias Demolished (1996), sobre a destruição de edifícios de moradias. Deste modo, constitui o fundamento de seu trabalho tornar visível o que o poder dos objetos, a arquitetura ou a especulação urbana devoram: os espaços de habitar.

Whiteread apresentou exposições individuais em instituições como o Kunsthalle Basel, Museu Reina Sofia, Serpentine Gallery e Guggenheim Berlim, entre outras. Suas obras estão em inúmeras coleções prestigiadas do mundo, incluindo o MoMA e o Metropolitan Museum de Nova York; National Gallery of Art, Washington D.C.; Stedelijk van Abbemuseum, Eindhoven; National Galleries of Scotland, Edimburgo; Tate Modern, Londres; e Centre Pompidou, Paris.  Uma grande retrospectiva de sua obra esta sendo organizada em conjunto pela National Gallery of Art (Washington) e Tate Britain (Londres), que deve estrear no outono europeu de 2017.

A artista é representada pela Gagosian Gallery e pela Luhring Augustine.

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