Jesús Rafael Soto | Artista do Mês | Janeiro/2016

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O artista venezuelano Jesús Rafael Soto foi um dos pioneiros e principais representantes da arte cinética – corrente das artes plásticas que explora os efeitos visuais através de movimentos físicos, ilusão de ótica ou truques de posicionamento das peças. É dito que a arte de Soto é uma simbiose entre a criação do artista e o efeito que ela produz em seus espectadores: ela só pode estar completa a partir da ilusão que cria na mente de quem a observa.

Nascido em 1923 em Bolivar, Venezuela, já na adolescência trabalhou como artista comercial, pintando cartazes para teatros e cinemas locais.

Em 1942, iniciou seu aprendizado artístico com bolsa para estudar na Escola de Artes Plásticas de Caracas, onde conheceu Carlos Cruz-Díez e Alejandro Otero. Ao tomar contato com uma pintura cubista de Georges Braque, ficou interessado em formas geométricas de expressão. Em 1949, fez sua primeira exposição no Taller Libre de Arte, em Caracas. Soto considerava-se influenciado por Mondrian e por Malevitch, seu artista predileto.

Logo depois de se formar, dirigiu a Escola de Artes Plásticas de Maracaibo de 1947 a 1950, quando se mudou para Paris – onde permaneceu até a sua morte, em 2005, e produziu grande parte de suas obras. Naquela época, um instigante movimento dava seus primeiros passos, no sentido de dar corpo às experiências envolvendo luz, cor e movimento.

Jesus Rafael Soto

Petite Ecriture Noir, 1968. Coleção particular.

Por volta de 1951, o venezuelano começou a expor obras que envolviam um elemento de vibração, através da repetição dos elementos formais. Para ele, o uso da repetição era uma maneira de se libertar dos conceitos formais da arte tradicional, que estava ligada à arte figurativa. Ele achava que a verdadeira arte abstrata só poderia se transfigurar com a performance do movimento. Nas repetições ópticas, desenvolveu trabalhos em alto relevo, que lhe renderam o status de pintor e escultor.

Em 1953, começou a investigar possibilidades de aprimorar seu estilo, criando novos efeitos ópticos. Pela primeira vez, fez uso de elementos cinéticos em sua obra. O artista aplicou, em seguida, os princípios da sobreposição dos motivos de tramas curvas ou das elipses.

Sua primeira obra cinética, “Spiral” (1955), consistia em duas folhas de acrílico sobrepostas, cada qual com uma espiral pintada, que produziam uma aparente imagem vibratória. A exposição “Le Mouvement”, na Galerie Denise Rene, em Paris, no ano de 1955, exibiu esta obra ao lado de trabalhos de artistas como Victor Vasarely, Yaacov Agam, Jean Tinguely, Pol Bury e outros, marcando o nascimento oficial da Arte Cinética. Na sequência, Soto produziu sua série de estruturas cinéticas, exibidas a partir do próximo ano.

Soto preferiu materiais modernos sintéticos e industriais como o nylon, aço, hastes finas de metal e pintura industrial na série de trabalhos que incorporam movimento real e aparente, quando ele começou em 1955. No início da década de 1960 ele explorou as texturas de objets trouvés, incluindo madeira velha, arames enferrujados e cordas desfiadas, em obras como “Old Timber” (1960). Suas obras cinéticas criavam oposições entre elementos estáticos e dinâmicos a fim de convidar a participação ativa do espectador, tanto visualmente quanto intelectualmente.

Além disso, Soto começou a pensar em maneiras de fazer com que o espectador pudesse interagir com suas obras e instalações. Como resultado, surgiram os penetráveis, marco de sua carreira, feitos com elementos suspensos como fios de náilon translúcidos, que permitem que as pessoas possam passear por eles, interagindo com a obra. O primeiro penetrável do artista surgiu em 1967 e um dos exemplares, o Penetrável de Plástico, integra o acervo do MAC-USP, em São Paulo. Ao longo de sua carreira, Soto criou mais de 25 penetráveis.

Apaixonado por música, o artista procurou adaptar as regras de composição musical ao universo visual. Aprofundando-se neste campo, realizou suas primeiras criações vibratórias a partir de 1960.

Também produziu trabalhos monumentais para espaços públicos, como os murais do prédio da Unesco, em Paris. Outras obras de Soto adornam o teto do salão principal do Teatro Teresa Carreño e o interior da estação de metrô em Chacaito, ambos em Caracas. Esta última se estende para o exterior da estação e pode se ver a partir da superfície, na Praça Brion Chacaíto.

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A partir da década de 1970, no auge de sua carreira, Soto expôs em lugares como o MoMA e o Museu Guggenheim, em Nova York, o Centre Georges Pompidou, em Paris. Participou das Bienais de Veneza (1966) e de São Paulo (1996). Em 1995, foi agraciado com o Grande Prêmio Nacional de Escultura da França. Em sua homenagem, o governo da Venezuela inaugurou o Museu Jesus Soto em sua cidade natal, em 1973, onde se encontra um conjunto representativo da obra do artista, além de um excepcional acervo de obras produzidas por seus contemporâneos europeus e latino-americanos.

Suas obras estão nas principais coleções do mundo, como o MoMA, Nova York; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York; Blanton Museum of Art, Austin; Tate Gallery, Londres; Stedelijk Museum, Amsterdã; Museum Boymans-van Beuningen, Roterdã; Royal Museum of Fine Arts of Belgium, Bruxelas; Museo Nacional de Bellas Artes, Buenos Aires; Museo de Bellas Artes, Caracas; Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, Paris; Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio; Musei Vaticani, Vaticano.

Jesus Rafael Soto faleceu em Paris, em 2005. Dez dias após a sua morte, foi inaugurada a exposição “Soto: A Construção da Imaterialidade”, no CCBB do Rio de Janeiro. Esta foi a primeira retrospectiva do artista organizada no Brasil, e examinava as relações entre o trabalho do artista venezuelano e as obras de artistas brasileiros como Volpi, Amilcar de Castro, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Sergio Carmargo e Wyllis de Castro.

Jesus Rafael Soto

Doble tranparencia, 1956

Jesus Rafael Soto

Sotomagie, 1967

Jesus Rafael Soto

Sem título, 1960. MoMA, Nova York

Jesus Rafael Soto

Sem título, 1961. Coleção particular.

Jesus Rafael Soto

El Tambor, 1963. Coleção particular

Jesus Rafael Soto

Vibrations, 1965.

Jesus Rafael Soto

Sem título, 1971. MoMA, Nova York.

Jesus Rafael Soto

Sphère Bleue de Paris, 2000. Museu Jesus Soto.

Jesus Rafael Soto

Leda and the Swan – 1963

Jesus Rafael Soto

Ortogonal Vibrante y Cuadrado, 2002.

Jesus Rafael Soto

Museu Jesus Soto. Bolivar, Venezuela. Abriga obras do artista e sua coleção particular.

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