“Mira Schendel: Avesso do Avesso” no Instituto de Arte Contemporânea

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Trabalhos coloridos: “um lado mais solar” de Mira, segundo o curador

O IAC – Instituto de Arte Contemporânea – apresenta até 27 de fevereiro de 2011 a exposição “Mira Schendel: Avesso do Avesso”. Com curadoria do professor Cauê Alves, a mostra reúne cerca de 160 obras, todas em papel, produzidas por Mira Schendel (Suíça, 1919 – Brasil, 1988) entre as décadas de 1950 e 1980.

Os trabalhos, quase todos de coleções particulares, são pouco conhecidos do público, em especial, as obras coloridas, que revelam “um lado menos melancólico e mais solar da artista”, define o curador. “Minha ideia não é fazer uma retrospectiva, mas mostrar Mira de um modo diferente de como ela é normalmente exibida, até mesmo pela montagem da exposição, que não se dará dentro de um ‘cubo branco’ e sim em salas de fundo com fundo marrom, próximo ao do piso”, diz Cauê.

Apesar da carreira de Schendel não se restringir aos papéis, “Avesso do Avesso” ressalta a importância que o material teve no trabalho da artista. Em suas mãos, o papel deixou de ser apenas um suporte, pois ela soube desdobrá-lo e explorar todas as suas potencialidades: a transparência, o frente e verso, a tridimensionalidade, as linhas e os vazios, o dentro e o fora.

Na exposição, se verá o papel-arroz de suas Monotipias, com linhas traçadas que despertam o vazio e definem as relações espaciais. São obras de dimensões pequenas (na vertical, com a altura tendo o dobro da largura, geralmente 46 x 23 cm), intimistas, mas “muito bem resolvidas e verdadeiras”, segundo o curador. O papel-arroz também está presente nas séries Bordados, com desenhos em motivos geométricos, e Bombas, cujos contornos são borrados e os limites indefinidos.

Na série Trenzinhos, Mira estabelece uma rica relação entre o ar, a matéria da obra e a atmosfera ao seu redor, já que qualquer brisa provoca movimentos sutis nas folhas de papel soltas penduradas por um fio de nylon. Em Toquinhos (papel artesanal tingido e colado sobre outras folhas), o trabalho de Schendel ganha maior consistência física e adquire um corpo mais sólido, e os Datiloscritos, trazem coladas sobre o papel letras adesivas e pré-fabricadas.


Obras em papel: “Avesso do Avesso” evidencia a importância do material para a artista

A chegada de Mira Schendel ao objeto, como em Droguinhas (folhas de papel-arroz retorcidas e trançadas) e nos seus Objetos gráficos (papéis prensados entre placas de acrílico e pendurados por fios de nylon transparentes), se deve a ação de trabalhar pelo avesso, de tecer por trás. “Mas é um avesso que não se opõe ao direito, um atrás que é simultaneamente frente, é transparência, é avesso do avesso”, explica o curador.

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