O inédito relatório Artsy Buyer Trends revela como o mercado de arte passou a refletir escolhas emocionais, íntimas e cotidianas em 2025
O mercado de arte em 2025 deixou claros os sinais de uma mudança estrutural no comportamento dos compradores. Em um ano marcado por volatilidade econômica, tensões geopolíticas e saturação digital, colecionadores passaram a adquirir obras menos como ativos especulativos e mais como extensões de seus modos de viver. Essa é a principal leitura do Artsy Buyer Trends 2025, relatório inédito baseado em buscas e transações realizadas na plataforma ao longo do ano.
Os dados apontam cinco tendências centrais que, quando observadas em conjunto, revelam um mercado guiado por introspecção, sensorialidade e desejo de estabilidade emocional. A primeira delas é a força do azul. Obras nessa paleta tiveram crescimento consistente, com destaque para o azul-cobalto e para imagens ligadas à água. Em um mundo em estado de alerta permanente, a cor funciona como abrigo psicológico, evocando calma, profundidade e contemplação.
Outra transformação relevante foi a consolidação das obras de pequeno formato. Pinturas, desenhos e trabalhos com dimensões reduzidas representaram 40% das compras em 2025. Além de mais acessíveis financeiramente, essas obras dialogam melhor com a realidade urbana contemporânea, marcada por mobilidade constante e espaços domésticos compactos.
Midori Terashima, detail of Hear -dance-, 2025. Sold by Gallery Yukiko Nakajima for $2,500. Courtesy the artist and Gallery Yukiko Nakajima.
Mercado de arte e o retorno ao íntimo
A terceira tendência mapeada foi o renascimento das cenas de mesa e dos rituais domésticos. Naturezas-mortas, representações de refeições e encontros em torno da comida ganharam espaço, refletindo uma revalorização da casa como núcleo simbólico de convivência, afeto e pertencimento. A arte acompanha, assim, um movimento cultural mais amplo de reconexão com o cotidiano e com gestos simples de cuidado.
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Em paralelo, o relatório identifica um retorno consistente à natureza. Paisagens, jardins, tons terrosos e cenas ao ar livre cresceram tanto em buscas quanto em aquisições. Em termos históricos, não se trata de um fenômeno novo: momentos de instabilidade política e tecnológica costumam reativar imaginários bucólicos como forma de escape e reorganização simbólica. Em 2025, esse impulso aparece como resposta direta ao cansaço urbano, à ansiedade climática e ao excesso de mediação digital.
Callie Connors, detail of Dreams of Summer, 2025. Sold by Deep Space Gallery for $850. Courtesy of the artist and Deep Space Gallery.
Por fim, o Artsy destaca um aprofundamento no interesse por obras gráficas de artistas consagrados, com destaque para David Hockney. Suas gravuras e edições, disponíveis em faixas de preço mais acessíveis, tornaram-se porta de entrada para colecionadores que buscam nomes históricos sem recorrer a investimentos extremos. O dado reforça uma tendência clara: mesmo o blue-chip está sendo absorvido de forma mais íntima, doméstica e pragmática.
Em conjunto, essas cinco tendências revelam um mercado de arte menos orientado por excesso e mais por coerência de vida. Em 2025, colecionar foi, sobretudo, um exercício de alinhamento entre desejo estético, espaço habitado e estado emocional.
