Art Basel Miami encerra 2025 como vitrine estratégica do mercado de arte global

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Entre ajustes de mapa, novas seções e muita demanda no secundário, Basel Miami fecha o ano reposicionando o mercado de arte internacional

A edição 2025 de Art Basel Miami Beach chega em um momento de reacomodação do mercado. Depois de dois anos de vendas instáveis e feiras presenciais ainda abaixo dos níveis pré-pandemia, os números positivos de Art Basel Paris trouxeram um sopro de confiança. Para Bridget Finn, diretora da feira na Flórida, há um clima de retomada: galerias mais focadas, colecionadores mais seletivos e a expectativa de “fechar o ano em alta”.

Essa reorganização aparece diretamente na planta da feira. As seções Nova e Positions, dedicadas a artistas emergentes e de meio de carreira, foram movidas para a entrada leste da feira, ao longo da Washington Avenue. É a primeira vez que Art Basel dá protagonismo logo na entrada às galerias mais jovens, criando um fluxo que privilegia descoberta, risco e novas narrativas.

Outra novidade é o lançamento da Zero 10, plataforma de arte digital que estreia com Pace Gallery, Art Blocks e Beeple Studios. A iniciativa integra o digital ao ecossistema global da Art Basel e deve circular por outras edições em 2026, consolidando um território híbrido entre obra, tecnologia e colecionismo.

Enquanto isso, o mercado secundário ganha força no pavilhão principal. A presença de obras históricas de Jeff Koons, Andy Warhol, Pablo Picasso e Frida Kahlo acompanha a energia vista nos leilões recentes de Nova York. O autorretrato miniatura de Kahlo, trazido pela Weinstein Gallery, vira um dos assuntos mais comentados da feira, impulsionado pelo novo recorde de US$ 54,7 milhões alcançado semanas antes. Lynne Drexler, cujo mercado está em ascensão, aparece em booths de Berry Campbell e White Cube, reforçando a tendência de valorização de artistas mulheres do modernismo e do pós-guerra.

A chegada da Pace Di Donna Schrader Galleries – fruto da parceria entre Pace Gallery, Emmanuel Di Donna e David Schrader – ecoa esse cenário. O movimento indica uma reorganização do mercado secundário em torno de megaestruturas híbridas, mesclando galeria, consultoria e private sales. Basel Miami, por sua vez, funciona como vitrine desse reposicionamento.

 

Basel Miami, circuito expandido e a presença latino-americana

A força da semana de arte em Miami se intensifica quando vista junto às feiras satélite. Art Miami, na 35ª edição, reúne mais de 160 galerias de 24 países e articula blue-chip com descobertas de médio porte. Adamar Fine Arts apresenta um inédito de Alex Katz; De Buck | Wood-Smith traz desenhos icônicos de Keith Haring; e a Camera Work exibe os retratos Human Voices de Martin Schoeller.

A presença latino-americana aparece com consistência. Latin Art Core dá foco ao surrealismo moderno e contemporâneo; galerias de Buenos Aires, Havana, México e Montevidéu se espalham pelo circuito. No Context Art Miami, com 70 galerias, esse eixo ganha ainda mais força, especialmente com AC Latin Art (Buenos Aires) e Latin Art Core (Miami).

Na Aqua Art Miami, a ocupação intimista do Aqua Hotel cria uma experiência mais direta para colecionadores, com booths que funcionam como microexposições. Projetos independentes de Miami, Buenos Aires, Londres e Seul mostram produções emergentes em trajetória ascendente.

No pavilhão principal da Art Basel Miami Beach, a América Latina também marca presença institucional, como na circulação internacional de obras de Olga de Amaral e na referência à Fundação Itaú, ligada historicamente à trajetória de esculturas monumentais no mercado secundário.

O contexto político local também atravessa a feira. Galerias como Nina Johnson assumem um posicionamento explícito em defesa da cultura queer e imigrante, criando espaços de resistência em meio ao ambiente conservador da Flórida. Sua participação na Basel Miami, com obras de Anna Betbeze, Rochelle Feinstein e Patrick Dean Hubbell, afirma a galeria como polo vital de discurso e acolhimento.

Instalações de grande porte reforçam debates urgentes. Na Meridians, Ward Shelley exibe The Last Library IV: Written in Water, uma biblioteca fictícia repleta de livros banidos. Na praia, Es Devlin apresenta outra obra sobre censura, transformando o litoral em crítica pública.

No conjunto, a Art Basel Miami 2025 organiza um cenário em que o mercado se recalibra: fortalecimento do secundário, destaque para artistas mulheres, expansão do eixo latino-americano e integração de novas linguagens. Para quem acompanha o setor, o recado é claro: o ciclo que se abre em Miami é menos sobre euforia e mais sobre maturidade.

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