Autorretrato El sueño (La cama), de Frida Kahlo, alcança US$ 54,7 milhões na Sotheby’s e torna-se a obra mais cara de uma mulher artista em leilão
O leilão Exquisite Corpus, realizado na nova sede da Sotheby’s em Nova York, teve em Frida Kahlo o seu grande momento histórico. El sueño (La cama), autorretrato de 1940, foi arrematado por US$ 54,66 milhões, valor que a casa arredonda para US$ 54,7 milhões, tornando-se a obra mais cara de uma mulher artista já vendida em leilão e a peça latino-americana mais valiosa da história. O resultado ainda supera o recorde anterior da própria artista, registrado em 2021 por Diego y yo, vendida por US$ 34,9 milhões.
A valorização é ainda mais expressiva quando se observa a trajetória de mercado da obra: El sueño (La cama) havia sido vendida pela mesma Sotheby’s em 1980 por apenas US$ 51 mil. Em pouco mais de quatro minutos de disputas entre lances na sala e por telefone, o lote saltou de US$ 22 milhões para o martelo em US$ 47 milhões, chegando ao valor final com taxas. O desempenho reforça a combinação de escassez, narrativa biográfica e força simbólica que cerca Frida Kahlo e a coloca em um patamar comparável a ícones absolutos do mercado.

Frida Kahlo, ícone feminino, latino-americano e de colecionismo de longo prazo
No plano simbólico, El sueño (La cama) sintetiza temas centrais da obra de Frida Kahlo: o corpo em convalescença, a cama como espaço de dor e criação, a proximidade entre vida e morte. A artista aparece deitada em uma cama flutuante, envolta em vinhas, enquanto um esqueleto adornado com flores e dinamites repousa sobre o dossel. O motivo dialoga com a tradição mexicana do Día de los Muertos e com a biografia da artista, marcada por doenças, acidentes e lutos.
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Críticas e historiadores vêm reposicionando Kahlo desde os anos 1980, quando sua dimensão feminista ganhou força, inicialmente entre comunidades chicanas e instituições dedicadas à arte latino-americana. Hoje, sua presença em museus como o Malba, em Buenos Aires, e em iniciativas como o novo Museo Casa Kahlo, na Cidade do México, consolida um núcleo de referência para curadores e colecionadores.
A leitura de especialistas é clara: os recordes de Frida Kahlo abrem caminho para outras artistas mulheres e para a produção latino-americana em geral. Ao mesmo tempo em que o mercado corrige décadas de subvalorização, colecionadores globais passam a ver nesses trabalhos um eixo estratégico de portfólio, combinando relevância histórica, potência imagética e escassez real de obras disponíveis. El sueño (La cama) se torna, assim, não apenas um marco de preço, mas um sinal de que a redistribuição de atenção e capital no mercado de arte está em curso, com Frida Kahlo como figura central desse reposicionamento.
