O Louvre recebeu nove novas obras de Marlene Dumas, tornando-a a primeira mulher artista contemporânea a integrar sua coleção permanente
Em um marco para a história da arte contemporânea, o Museu do Louvre anunciou a incorporação de nove obras da artista sul-africana Marlene Dumas à sua coleção permanente – um feito inédito para uma mulher viva. A série Liaisons foi inaugurada em novembro de 2025 no átrio da Porte des Lions, área que conecta a Galeria dos Cinco Continentes às galerias de pintura, reafirmando a abertura da instituição ao diálogo entre o passado e o presente.
As pinturas, criadas especialmente para o museu, exploram rostos e expressões humanas que, segundo a artista, ecoam “as sombras dos horrores contemporâneos”. Dumas descreve suas figuras como um encontro entre o passado e o presente, retratando tanto a beleza quanto a dor que atravessam os tempos. “Não posso pintar diretamente os genocídios em curso, mas suas sombras influenciam o humor sob o qual essas faces foram criadas”, disse à curadoria do Louvre.
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Com sua paleta gestual e emocional, Dumas transforma o retrato em território simbólico: “Retratos lidam com o reconhecimento. Rostos lidam com o sem nome – os desumanizados, os fugitivos, os estrangeiros.”
A presença feminina que redesenha o cânone
A diretora do Louvre, Laurence des Cars, destacou que a escolha de Dumas foi “óbvia”. “Ela defende e renova o meio da pintura como poucas, criando pontes entre sensibilidades e origens diversas, exatamente o que buscamos para este espaço redesenhado.”
Dumas reconhece a ousadia do convite e o peso do gesto: “Alguns vão se perguntar: ‘Por que ela? E por que aqui?’ E eu responderei: ‘Porque ela me pediu.’”
Influenciada por mestres como Michelangelo, a artista vê o Louvre não apenas como o epicentro da arte ocidental, mas como um repositório da humanidade em todas as suas contradições. “O museu representa tanto as belezas quanto as inumanidades do Ocidente, e o valor de preservar a história coletiva da humanidade”, afirmou.
A entrada de Liaisons na coleção marca um novo capítulo no programa contemporâneo do Louvre, que recentemente ampliou sua presença no campo atual com obras de Luc Tuymans e Mohamed Bourouissa. A conquista de Marlene Dumas, porém, simboliza mais do que uma aquisição, é um gesto histórico de reparação e reconhecimento do feminino na arte, dentro do museu mais emblemático do mundo.

