Xiaoyu Weng, curadora da Documenta 16, fala sobre como desenvolver o ecossistema artístico da Ásia

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A curadora Xiaoyu Weng defende ecossistema asiático mais autônomo, colaborativo e menos dependente das lógicas de mercado

A curadora e pesquisadora Xiaoyu Weng tem sido uma das vozes mais influentes na redefinição do papel da arte asiática no circuito global. Atualmente à frente da Documenta 16, da Tanoto Art Foundation (Cingapura) e da Art in General (Nova York), Weng tem construído pontes entre instituições, geografias e epistemologias. Em conversa ao Artnet, ela refletiu sobre a expansão do campo artístico asiático e o papel das diásporas na criação de novas narrativas e infraestruturas culturais.

Segundo Weng, o chamado “campo da arte asiática” passou de um eixo dominado pelo Leste Asiático a um panorama vibrante que inclui o Sudeste e a Ásia Central, impulsionado por eventos como a Bienal de Bukhara, no Uzbequistão. Ela observa o surgimento de uma geração de curadores, artistas e pensadores asiáticos e diaspóricos que vêm ganhando espaço não apenas em exposições, mas também em instâncias decisórias, moldando a estrutura e a ética das instituições culturais. “Queremos criar nossas próprias narrativas e ampliar as formas de representação”, resume.

Para ela, o fortalecimento do ecossistema artístico asiático depende de um compromisso com práticas que não se alinham às lógicas de mercado. Weng defende a criação de mecanismos de financiamento mais robustos e desburocratizados, como o modelo do prêmio MacArthur Fellowship, com bolsas sem contrapartidas para artistas, curadores e pesquisadores. “Esse tipo de apoio tem efeito transformador — não só para o premiado, mas para toda a comunidade ao redor”, afirma. Também enfatiza a necessidade de infraestrutura cooperativa e mentoria entre gerações: artistas consagrados apoiando jovens criadores e curadores compartilhando oportunidades.

A curadora observa ainda uma mudança nas dinâmicas de poder: o intercâmbio entre países asiáticos e entre comunidades diaspóricas vem substituindo o antigo modelo mediado por agentes ocidentais. Esse movimento fortalece a autonomia intelectual e simbólica da região. Segundo Weng, a sensibilidade asiática contemporânea se manifesta na capacidade de traduzir cosmologias, tradições e condições históricas complexas em linguagens artísticas singulares, como observado nas participações asiáticas da Bienal de São Paulo de 2025.

Para o futuro, ela projeta uma intensificação dos intercâmbios regionais, a consolidação de novas instituições e o crescimento de exposições itinerantes dentro da própria Ásia. O caminho, segundo Weng, é o da colaboração: construir um sistema mais solidário, autoral e sustentável, capaz de equilibrar excelência estética com responsabilidade cultural.

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