A ARTnews revela a 36ª edição anual da lista de Top 200 Colecionadores globais, enxergando um mercado em correção e um colecionismo mais responsável, diverso e conectado
A edição 2025 do ARTnews Top 200 Colecionadores chega em um ponto de inflexão. Depois do excesso, a “correção” no topo não é um fracasso, mas um realinhamento que favorece critério, pesquisa e visão. É o que defendem colecionadores ouvidos pela revista: a desaceleração reduz a especulação e reorienta atenção para onde o valor é criado, especialmente junto a artistas em estágios formativos e a programas curatoriais com coerência. Para Basma Al Sulaiman, o momento pede atenção redobrada ao encaixe entre obra, preço e contexto, mais discernimento, menos corrida por troféus.
Enquanto Europa e EUA atravessam arrefecimento, o Golfo consolida ambições. Reportagens destacam uma estratégia institucional na Arábia Saudita, com ênfase em museus e programação não comercial, e um ecossistema regional que se abre a colecionadores privados e fundações. O anúncio da Art Basel em Doha a partir de 2026 reforça a guinada de atenção. Nesse tabuleiro, colecionadores experientes apontam responsabilidades: sustentar pesquisa artística, criar condições para experimentação e compartilhar riscos com galerias que apostam cedo.

Andrea e José Olympio Pereira são os brasileiros que compõem a lista dos Top 200 ao lado de Pedro Barbosa e do casal Genny e Selmo Nissenbaum. Foto: divulgação Artnet
Novas gerações, novas lógicas
A pergunta se “colecionar tem futuro” encontra respostas otimistas. Michael Ovitz vê mais gente engajada do que parece, pedindo menos especulação e mais sentido. Vários entrevistados descrevem jovens colecionadores orientados por valores, transparência e participação. A socialização digital encurta distâncias com artistas, curadores e instituições, e a adoção de tecnologias, como blockchain, amplia debate sobre procedência, acesso e circulação. O ponto comum é a relação: comprar menos, comprar melhor, aprender continuamente, construir coleções com identidade.
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Preços elevados e barreiras de entrada seguem desafiando novos públicos, como observa Alexander Petalas, já que galerias maiores elevam rapidamente valores de artistas jovens. Ainda assim, o ecossistema se fortalece quando o colecionismo se distribui: grandes doadores convivem com muitos apoiadores de menor capacidade, mas alta dedicação. A consequência prática é um mercado com mais pontos de acesso, do estúdio à instituição, e um circuito menos centrado em poucos nomes “blue-chip”.
Stewardship, não só aquisição
A tônica se desloca de acumular objetos para exercer stewardship: apoiar trajetórias, fomentar programas de risco, ampliar vozes sub-representadas e tecer vínculos duráveis com galerias independentes. Muitos aconselham iniciantes a priorizar estudo e afinidade, visitar exposições, conversar com artistas, formar convicções e evitar modismos. Comprar com o olhar, não com o ruído. Para vários membros do Top 200, isso também significa equilibrar obras históricas com apostas em emergentes e médios, fortalecendo a base que mantém o sistema vivo.
Em síntese, o panorama que emerge é menos extravagante e mais sustentável. O Golfo expande infraestrutura e ambição, a correção de preços devolve fôlego à análise, e o colecionismo se reafirma como prática cultural, educativa e comunitária. Se a euforia deu lugar à consistência, o futuro do colecionar continua convincente: feito de propósito, curiosidade e relações que atravessam tempos, tecnologias e geografias.