Frieze Week 2025: leilões da Christie’s e Sotheby’s sinalizam recuperação cautelosa

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Vendas sólidas durante a Frieze Week e recordes pontuais trazem alívio ao mercado, mas a correção de preços mantém colecionadores e casas em tom vigilante

Os leilões noturnos da Frieze Week em Londres ofereceram um primeiro respiro a um mercado que atravessou um período de ajustes. O saldo foi misto, porém encorajador: quando havia desejo genuíno, os preços correram; nos lotes medianos, a disciplina venceu e a correção seguiu em curso. Na noite de 15 de outubro, a Christie’s abriu a rodada com sua venda de arte dos séculos 20/21, apresentando 61 lotes estimados entre £87 milhões e £129 milhões. O martelo fechou em £106,9 milhões, dentro das expectativas e 30% acima do resultado do ano anterior, num sinal de fôlego seletivo.

O momento mais tenso veio com Ski Jacket (1994), de Peter Doig, que superou a estimativa de £6–8 milhões e alcançou £14,2 milhões após um duelo de 14 minutos entre telefones de Hong Kong e um comprador na sala. A obra pertencia ao colecionador dinamarquês Ole Faarup (1934–2025), conhecido por apostar cedo em artistas como Warhol e Basquiat. Do mesmo conjunto, Country Rock (1998–99) ficou em £9,2 milhões com taxas, dentro do piso. Como resumiu a especialista Katherine Arnold, a potência material de Doig sustenta a demanda.

Recordes adicionaram brilho: Paula Rego cravou £3,5 milhões com o tríptico Dancing Ostriches (1995); Suzanne Valadon atingiu £1 milhão com Deux Nus (1923); Annie Morris levou sua Bronze Stack 9, Copper Blue (2015) a £482,6 mil. Ainda assim, a nova realidade ficou evidente na largada de vários lotes abaixo do piso, inclusive o autorretrato de Lucian Freud, que partiu de £4,2 milhões e martelou em £6,2 milhões (£7,6 milhões com taxas), contra uma estimativa entre £8–12 milhões. Ao todo, 31 lotes tinham garantias, sete da casa e o restante de terceiros, o que ajuda a estabilizar, mas impõe disciplina.

Ski Jacket, de Peter Doig, superou sua estimativa e atingiu £ 106,9 milhões na Christie's

Ski Jacket, de Peter Doig, superou sua estimativa e atingiu £ 106,9 milhões na Christie’s

Sotheby’s: lances longos e seletividade

No dia 16, a Sotheby’s ofereceu 27 lotes estimados em £32,6–48,3 milhões (sem taxas) e encerrou em £47,6 milhões, perto do topo. O destaque foi Francis Bacon, Portrait of a Dwarf (1975), que atingiu £13,1 milhões após 17 minutos de disputa intensa. A abstrata 9:59 (2021), de Lucy Bull, surpreendeu ao chegar a £1,3 milhão contra uma faixa de £300–500 mil, enquanto The Visit (2017) de Matthew Wong alcançou £720 mil, abaixo da estimativa. Treze lotes tinham bids irrevogáveis, e apenas três dos dez mais valiosos – Bacon, Yves Klein e Georg Baselitz – superaram as estimativas.

Um mercado que testa o pulso, não a sorte

O recado das duas noites é cristalino: o mercado recompensa qualidade indiscutível e castiga exuberâncias, sobretudo onde os preços inflaram nos últimos três a quatro anos. A gestão de risco por garantias e a calibragem fina de estimativas mostram casas e vendedores mais realistas. Como resumiu Katherine Arnold, as vendas noturnas são a vitrine mais visível para “determinar os valores de hoje”. Em 2025, isso significa correção com método: apetite por obras icônicas, espaço para recordes pontuais e menos tolerância a guias excessivos. Alívio, sim – mas com os pés no chão.

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