Com o mercado mais cauteloso, mega-galerias correm para assinar talentos emergentes e mudam preços, carreira e acesso de colecionadores
Tradicionalmente, artistas passavam por uma incubação longa: apoio de pequenas galerias, prêmios, mostras institucionais e um público fiel antes de chegar a uma blue-chip. Hoje, essa trajetória encurtou. Exemplos recentes incluem George Rouy (30 anos) na Hauser & Wirth, Pam Evelyn (27) na Pace e Sasha Gordon (26) na David Zwirner, todos captados antes de consolidar currículos robustos. O resultado é uma corrida de “quem chega primeiro” que eleva jovens talentos a patamares de mercado que antes levavam décadas para alcançar.
As consequências são claras: entre 2023 e 2024, as vendas globais de galerias caíram 6%, mas aquelas com faturamento anual até 250 mil dólares cresceram 17%. Já os leilões de ultra-contemporâneos recuaram 37,9%, mostrando que a especulação perdeu fôlego. Colecionadores agora buscam relações estáveis com galerias e atenção à sustentabilidade das carreiras, em vez de apenas hype e retornos rápidos.
Preços em mutação e novos colecionadores
O conceito de “emergente” também mudou. Se antes orbitava em torno de 10 mil dólares, hoje muitos artistas nessa faixa já alcançam preços entre 30 e 45 mil, aproximando-se do mid-tier. Essa escalada gera ruído: por que um jovem com duas exposições custa tanto quanto um nome consolidado presente em bienais e museus? Apesar disso, abaixo dos 200 mil dólares as vendas continuam ágeis, impulsionadas por um perfil de comprador em expansão: os chamados “barely rich”, com patrimônio inferior a 5 milhões de dólares, grupo que desde 2000 quadruplicou e hoje responde por até 44% das vendas de galerias.
- Três artistas ultracontemporâneos japoneses para ficar de olho
- Phillips amplia presença no mercado sul-asiático com exposição inédita em Londres
- Resiliência em tempos de retração: o que revela o novo Art Basel and UBS Global Art Market Report
Esse cenário pressiona o ecossistema. Para colecionadores, pagar 20 mil dólares em uma obra numa mega-galeria não tem o mesmo peso que comprar a mesma obra em um espaço jovem — ainda que a pintura seja idêntica. A segurança simbólica de grandes nomes fragiliza os pequenos dealers, que muitas vezes recorrem a co-representações desiguais para manter artistas em seus programas.
Sustentabilidade e futuro
Críticos alertam que o encurtamento das etapas compromete a longevidade das carreiras. Uma grande estreia pode inflar expectativas, mas o desafio é manter relevância no quarto ou quinto show, quando a atenção se dispersa. Dealers como Sebastian Gladstone e David Kordansky defendem estratégias de preços conservadoras e colocações cuidadosas para evitar o “roubo do futuro” dos artistas.
As galerias menores seguem vitais no ecossistema, cultivando relações próximas com instituições regionais e curadores emergentes. Sem elas, os currículos dos artistas estagnam e a diversidade de programas desaparece. Apesar da pressão do mercado, cresce também a consciência de que sustentabilidade, tempo de incubação e preços orgânicos são essenciais para a saúde do sistema. Como sintetizou um advisor: “Sem as pequenas galerias, não há um mundo da arte saudável. Elas são os probióticos do sistema – arriscadas, caóticas e indispensáveis.”
Fontes: Artnet News; Art Basel & UBS Art Market Report 2025.