Obra-prima de Canaletto, criada na década de 1730, conquista segundo maior valor já pago por um Old Master na Christie’s Londres, e especialistas apontam três fatores-chave
O mercado de arte testemunhou um momento marcante em 1º de julho, quando a Christie’s Londres vendeu Venice, the Return of the Bucintoro on Ascension Day por US$ 43,9 milhões (£31,9 milhões), superando a estimativa mínima de £20 milhões e quebrando o recorde de Canaletto. A pintura se tornou a segunda obra mais cara de Old Master já vendida pela casa na cidade.
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Mas por que este interesse? Abaixo, as possibilidades apontadas pela análise do portal Artnet pelos motivos que levaram ao resultado que surpreendeu até mesmo alguns especialistas experientes em Old Masters.
1. A perfeição do “Canaletto ideal”
Para o dealer Robert Simon, a obra reúne todos os atributos desejáveis: tema vibrante, composição repleta de ação e dimensões excepcionais (86 x 137 cm), sendo a maior vista no mercado em anos. A cena captura a energia de Veneza durante a festa da Ascensão, atraindo não apenas colecionadores especializados, mas também um público mais amplo interessado em peças únicas (de iates a obras-primas).
2. Raridade extrema
A última aparição da pintura em leilão foi em 1993, quando foi vendida em Paris por US$ 11,6 milhões, mais que o dobro da estimativa. Desde então, nenhuma obra de calibre semelhante chegou ao mercado. O recorde anterior de Canaletto havia sido estabelecido há 20 anos, reforçando o caráter excepcional da transação.
3. Relevância histórica e proveniência ilustre
Consideradas entre as melhores criações do artista, as vistas de Veneza dos anos 1730 se destacam pela precisão e riqueza de detalhes. Este exemplar retrata a cerimônia em que o Doge lançava um anel ao mar para simbolizar o “casamento” da cidade com o mar, tradição que unia a população até 1797. A pintura já integrou a coleção de Robert Walpole, primeiro-ministro britânico, tendo ocupado lugar de destaque no número 10 da Downing Street e, posteriormente, em Houghton Hall.
Para alguns especialistas, como Nicholas Hall, trata-se de um trabalho “magnífico, mas convencional”. Ainda assim, a escala imponente, a composição carregada de elementos venezianos e a história por trás da peça transformaram-na no “trophy buy” perfeito, protagonizando um dos lances mais disputados em um leilão de Old Masters nos últimos anos.