Leilões de Old Masters em Londres surpreendem com vendas expressivas, redescobertas valiosas e novos recordes para artistas clássicos e esquecidos
Apesar da retração nos grandes números, o leilão de Old Masters da Sotheby’s, em 2 de julho, apresentou desempenho sólido, arrecadando £14,5 milhões (com taxas) com 81% dos lotes vendidos. Em meio a um mercado contemporâneo instável, o setor de mestres antigos se mantém mais resiliente, apoiado na escassez de obras e na força de sua herança histórica.
O destaque da noite foi a venda da pintura The Rising Squall, Hot Wells, from St Vincent’s Rock, Bristol (1792), de J.M.W. Turner, comprada por apenas £500 em 2023, quando ainda era atribuída a outro artista. Após confirmação da autoria, a obra foi arrematada por £1,9 milhão, celebrando a primeira pintura a óleo exibida publicamente por Turner, com apenas 17 anos.
Três novos recordes marcaram a noite: Lorenzo di Credi, com sua imponente representação de São Quirino de Neuss (£2,7 milhões com taxas); Corneille de Lyon, com seu retrato enigmático de um mercador (£863 mil); e a pouco conhecida Diana de Rosa, cujo quadro barroco Salomé com a cabeça de São João Batista alcançou £317 mil – mais de quatro vezes sua estimativa. Segundo especialistas, o sucesso da obra pode impulsionar redescobertas de outras peças da artista, contemporânea de Artemisia Gentileschi.
A força da procedência e o apelo da estética clássica
Outro momento simbólico foi a venda da escultura em terracota Shock Dog, de Anne Seymour Damer, por £635 mil, marcando um novo recorde para a escultora do século XVIII. Famosa por retratar cães de colo em estilo realista e afetuoso, Damer teve seu talento reconhecido no contexto da venda Master Sculpture from Four Millennia. Um exemplar em mármore da mesma obra integra o acervo do Met, em Nova York.
Também se destacou a pintura bizantina do século XIV The Hodegetria Mother of God, que mais do que triplicou sua estimativa ao ser vendida por £825 mil. E, do outro lado da New Bond Street, a Bonhams brilhou com o retrato de Sir Edward Monins, de George Gower, vendido por £1,1 milhão – mais de quatro vezes a estimativa inicial.
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A diretora de Old Masters da Sotheby’s, Elisabeth Lobkowicz, destacou o apelo contínuo por obras florentinas e com forte presença visual. “Di Credi trabalhou ao lado de Leonardo, e esse quadro é um retrato do mesmo momento mágico do Renascimento”, observou.
As vendas demonstram que, em um mercado sensível ao excesso de oferta e à instabilidade contemporânea, peças com história, procedência sólida e estética impactante continuam a conquistar colecionadores. A valorização de artistas mulheres e obras redescobertas reforça a importância do olhar atento e da pesquisa como elementos centrais no colecionismo atual.